Daniel Adrião, líder da minoria que se opõe à atual direção do PS, afirmou ao JN que a transparência interna é "uma das grandes preocupações" das bases do partido. Adrião, que irá discursar na reunião da comissão política desta quinta-feira, assume-se como "uma espécie de provedor" dos militantes comuns e entende que a maioria absoluta "aprofundou" o "distanciamento" entre direção e bases.
Corpo do artigo
Esta quarta-feira, no Facebook, Daniel Adrião tinha feito uma publicação na qual pedia aos "militantes de base" e aos "cidadãos sem voz nos órgãos nacionais do PS" para lhe indicarem "o que gostariam de ver debatido" na reunião da comissão política. A maioria das respostas abordou a necessidade de mais transparência no partido.
Ao JN, Adrião frisou que essa é "uma das grandes preocupações" das bases socialistas, que temem o "risco de promiscuidade" no partido. O próprio líder da minoria de oposição à direção de Costa partilha dessa visão, razão pela qual defende que nenhum militante deve poder acumular funções de direção executiva partidária com cargos no Governo.
Daniel Adrião afirmou também que existe "claramente" um "distanciamento" entre a direção do PS e os restantes membros do partido, considerando que esta se "aprofundou" com a conquista da maioria absoluta. A título de exemplo lembrou que, embora os estatutos do partido obriguem a que a comissão política se reúna a cada dois meses, esta será a primeira reunião em nove meses. "Já devia ser a quinta", lamentou.
Questionado sobre o caso de Miguel Alves, alguns minutos antes de este anunciar a demissão, Daniel Adrião afirmou que o secretário de Estado não tinha "grandes condições para se manter no cargo", sobretudo depois de ter sido formalmente acusado num processo que nasceu de uma denúncia anónima e até agora desconhecido.
Daniel Adrião mostrou-se ainda cético quando à necessidade de uma revisão constitucional, um dos temas que Costa deverá abordar na comissão política. "Não sei se o país tem, neste momento, uma grande urgência em fazê-lo", sustentou.
Para o opositor do secretário-geral, a prioridade deveria ser levar à prática certas inovações eleitorais, como a criação dos círculos uninominais. Adrião descreve essa medida como "a mãe de todas as reformas", argumentando que ela "geraria maior participação eleitoral" e mais "confiança" nas instituições.
O socialista criticou ainda a "tentação" de facilitar constitucionalmente eventuais futuros confinamentos, considerando que essa "restrição de direitos, liberdades e garantias" é "muito perigosa".