O Grupo de Reflexão Estratégica Independente (GREI), que reúne vários antigos chefes militares, apresentou, em Lisboa, um livro crítico da reforma da estrutura superior das Forças Armadas (FA), alegando que esta foi feita de forma "apressada". O general Ramalho Eanes, que também contesta as mudanças aprovadas, esteve presente mas não falou.
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O general Pinto Ramalho, presidente da direção do GREI, descreveu esta quarta-feira a aprovação da alteração - feita em junho com os votos de PS, PSD e CDS - como um exercício de "autismo legislativo".
Esta, recorde-se, dá mais poderes ao Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, colocando os chefes dos três ramos (Marinha, Exército e Força Aérea) na sua dependência hierárquica.
Pinto Ramalho denunciou que os objetivos da reforma, entretanto promulgada pelo presidente da República, nunca foram enunciados "de forma clara". Além de a "pressa" ter sido um "fator determinante" na elaboração das leis, também houve um "défice de participação institucional" da parte das FA, alegou.
Dessa forma, "abriu-se caminho ao experimentalismo" e, consequentemente, "ao autoritarismo, ao carreirismo e, ainda mais grave do que isso, à governamentalização das FA", argumentou o militar.
José Gil "perplexo" com "desconfiança" do Governo
Fernando Melo Gomes, antigo Chefe do Estado-Maior da Armada e um dos autores do livro (intitulado "A Reforma da Estrutura Superior das Forças Armadas" e prefaciado por António Barreto), considerou que o GREI foi "completamente ignorado nas suas posições". O processo, "apressado e sem propósito entendível", criará um "atrito permanente" entre Governo, chefias e ramos das FA, alertou.
Já o filósofo José Gil, que apresentou a obra, disse ter ficado "perplexo" com o conteúdo das alterações aprovadas. "Compreende-se mal o objetivo deste ímpeto reformista", referiu, lamentando a "desconfiança" do Governo em relação às instituições militares.
Além do antigo presidente da República, Ramalho Eanes, também Ana Gomes, antiga eurodeputada, e Vasco Lourenço, militar de Abril, estiveram presentes no lançamento. Dos partidos com assento na comissão parlamentar de Defesa, PS, BE e PCP fizeram-se representar, ao contrário de PSD e CDS.