Ministra da Saúde pede abertura de inquérito ao caso da mulher que teve parto na rua
A ministra da Saúde solicitou à Inspeção-Geral das Atividades em Saúde a abertura de um processo de inquérito ao caso de uma jovem grávida que teve o parto numa rua do Carregado, no concelho de Alenquer.
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"O procedimento foi já determinado pelo Inspetor-Geral das Atividades em Saúde para investigar os factos relativos à assistência prestada pela Linha SNS 24 e pelo Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU), no momento da ocorrência, bem como à assistência prestada pela Unidade Local de Saúde do Estuário do Tejo à grávida", refere o Ministério da Saúde em comunicado.
Ordem dos Médicos pede esclarecimentos
A Ordem dos Médicos pediu hoje esclarecimentos ao Ministério da Saúde, à Direção Executiva do SNS e ao INEM sobre o parto, para "apurar em detalhe" as circunstâncias do caso, que considera "inadmissível".
Adianta que, "de forma responsável", solicitou esclarecimentos "com o objetivo de apurar em detalhe as circunstâncias que conduziram a este desfecho e de avaliar eventuais falhas ou necessidades de melhoria no acesso e na capacidade de resposta da linha SNS 24 e dos serviços de saúde".
"Esta situação é inadmissível e é fundamental perceber exatamente em que circunstâncias ocorreu", defende a Ordem, esclarecendo que o seu propósito "é garantir que, no futuro, situações semelhantes possam ser prevenidas".
Para isso, o bastonário Carlos Cortes defende "ser indispensável conhecer todos os factos e circunstâncias que estiveram na sua origem". "A segurança e a dignidade das pessoas, das grávidas e seus filhos têm de estar sempre em primeiro lugar", realça o bastonário, citado no comunicado.
A Ordem dos Médicos reafirma o seu empenho em assegurar a qualidade dos cuidados e a defesa dos direitos dos doentes, comprometendo-se a promover soluções que garantam cuidados seguros, atempados e humanizados para todos, prevenindo que ocorrências desta natureza se repitam, independentemente das causas.
Parto na rua em Alenquer
Uma mulher de 28 anos entrou em trabalho de parto, esta segunda-feira, na Avenida da Associação Desportiva, no Carregado, concelho de Alenquer, e acabou por ter a bebé no meio da rua. Foram os pais de Soraia, Isabel e Domingos, que ajudaram a neta a nascer, depois de terem rebentado as águas. Mãe e filha estão bem de saúde.
"Parece que ainda não me caiu a ficha. Nunca pensei passar por isto", confessa ao JN Isabel Moreira, 49 anos. Depois de Soraia ter deixado o filho mais novo no infantário, combinou encontrar-se com os pais na pastelaria Pãozinho da Quinta, mas já não se estava a sentir bem. Começou a ter contrações, e já nem conseguiu comer.
"Saí da pastelaria para ligar para a Saúde 24, que a mandou levar de carro para o Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, para ser mais rápido, porque lhes disse que a minha filha estava muito aflita", conta Isabel Moreira. "Sentámo-la num passeio alto, e rebentaram-lhe as águas. Enquanto o meu marido estava com ela, liguei para o 112, a pedir para mandarem uma ambulância, mas não sabíamos o nome da rua."
Nesse impasse, Isabel Moreira diz que começou a ouvir uma gravação em inglês. "Entretanto, a minha neta já tinha a cabeça de fora, e fui ajudar o meu marido a fazer o parto, enquanto uma senhora ligava para os Bombeiros Voluntários de Alenquer", recorda.
Gritos de desespero
Entre os gritos de aflição de Soraia, a pequena Serena nasceu "uns dez minutos depois". "Foi rápido, porque o meu marido puxou a bebé", explica. Já depois do parto, apareceu uma enfermeira e um médico, que prestaram assistência à mãe. "Foram os dois que fizeram o resto. Cortaram o cordão umbilical. E houve pessoas que trouxeram toalhas."
"A minha filha estava um bocadinho nervosa, mas depois de ver a bebé a chorar ficou mais calma. Foi uma aflição", relata Isabel. Mas a "aventura" não ficou por aqui. Depois de chegar, a ambulância dos bombeiros teve um furo, e tiveram de chamar outra. "Depois, chegou um carro do INEM, com um médico, que deu indicações para os bombeiros transportarem a minha filha para o hospital de Santarém. Desde que a minha neta nasceu, passaram uns 45 minutos."
Soraia estava a ser acompanhada no Centro de Saúde de Alenquer. "Às 39 semanas, tinha entrada na Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, mas, uma semana depois, a médica de família disse que já não tinha para onde a mandar, nem às outras grávidas, e a minha filha andava muito ansiosa", garante Isabel. "Era para ter o parto no dia 6, e teve no dia 11. É uma vergonha o que se está a passar."
"Nunca vi uma coisa destas. Ligamos para o todo o lado, e ninguém quer saber", desabafa a avó de Serena. "Ainda estou em choque. Correu tudo bem, mas podia ter corrido tudo mal. Foi um desespero muito grande", afirma. "Quem fica grávida, neste momento, tem de ter muita coragem.". Os outros dois netos nasceram no Hospital de Vila Franca de Xira.
Segundo o INEM, a mãe e a bebé foram transportadas para o Hospital de Santarém, com acompanhamento do médico da Viatura Médica de Emergência e Reanimação.
