Maria do Céu Antunes nega, mas a informação de que a ex-secretária de Estado da Agricultura tinha contas bancárias arrestadas, num processo judicial que envolve o marido, era não apenas do conhecimento da ministra da Agricultura como de outros elementos do seu Ministério.
Corpo do artigo
Pior, a escolha criou mau ambiente no Ministério da Agricultura, porque alguns elementos do gabinete da ministra apenas souberam da escolha de Carla Alves pela Comunicação Social.
Em reação a este caso, "o Ministério da Agricultura e da Alimentação informa que a ministra da Agricultura e da Alimentação, Maria do Céu Antunes, não tinha conhecimento de qualquer envolvimento de Carla Alves em processos judiciais", lê-se num comunicado divulgado cerca das 10.30 horas.
A notícia de que a ministra tinha sido informada por Carla Alves foi avançada na manhã desta sexta-feira pelo jornal "Público".
Recorde-se que a ex-secretária de Estado da Agricultura, Carla Alves, demitiu-se após Marcelo Rebelo de Sousa ter encostado o primeiro-ministro à parede. O presidente da República exigiu-lhe que escolhesse melhor os seus governantes, recusando a sugestão para partilhar esse escrutínio entre a proposta dos novos membros e a sua nomeação. Além disso, considerou que a recém-nomeada representava um "peso político negativo" para o Executivo e deveria avaliar uma eventual demissão, ao fim de apenas um dia, por ter as contas arrestadas devido ao processo judicial que envolve o marido e ex-autarca.
Carla Alves viu-se envolvida em mais uma crise governativa a propósito de um processo relacionado com a compra de terrenos do antigo seminário desta vila, em que o marido, antigo autarca de Vinhais, é arguido, em conjunto com um empresário e um padre. Em resultado desse caso, a governante que esteve um dia no cargo teve as contas bancárias arrestadas. "O envolvimento da minha mulher é zero. É uma vergonha uma situação destas", defendeu o marido e ex-autarca Américo Pereira. "Ela não tem rigorosamente nada a ver com isto. Vou-me defender", explicou o advogado de profissão.
No âmbito deste processo foram ordenados arrestos preventivos no património dos arguidos. Depois de realizada a investigação patrimonial e financeira ao respetivo património, apurou-se que aqueles "são detentores de património incongruente e não declarado fiscalmente, num valor superior a mais de 3, 5 milhões de euros", segundo calculou o Ministério Público, que requereu que a quantia seja declarada perdido a favor do Estado.
Entretanto, a Iniciativa Liberal já faz saber que vai pedir a presença da ministra da Agricultura no Parlamento para prestar esclarecimentos, alegando que este episódio evidencia a "degradação do Governo a passos acelerados". "Todo o Governo já não devia estar em funções", enfatizam os liberais.
Confrontado com mais uma polémica no Governo, o minstro da Cultura, Pedro Adão e Silva, ouvido pela SIC na manhã desta sexta-feira, à entrada da conferência que assinala os 50 anos do jornal Expresso, referiu que a ministra da Agricultura não deve mais explicações sobre o caso: "A explicação já foi dada quando a secretária de Estado renunciou ao cargo 24 horas depois", sublinhou, lembrando que a avaliação "foi feita entre as duas" e "rapidamente se concluiu" que a saída da secretária de Estado seria a melhor solução.
Adão e Silva desvalorizou ainda uma eventual crise institucional entre o Governo e a Presidência da República, afirmando que há uma "ótima relação" entre Marcelo Rebelo de Sousa e o Governo e que essa relação constitui "um dos fatores de estabilidade do país".
Da mesma opinião não comunga o ex-ministro socialista Paulo Pedroso que, em declarações à rádio Observador, sugeriu que a ministra da Agricultura devia apresentar a demissão do cargo. "Não direi que não tem condições políticas para continuar, mas é um pouco surpreendente". "Há um erro de avaliação política que a envolve". Para rematar: "A minha convicção é que seria melhor que saísse".