O ministro da Educação afirmou temer o “pior” com o crescimento bancada parlamentar do Chega nestas eleições, cujo comportamento “não dignifica” a Assembleia da República. João Costa diz ter presenciado, durante os últimos dois anos, atitudes "indignas” e comentários “misóginos” dos deputados do partido.
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“Passei dois anos a assistir a uma atitude que não dignifica a Assembleia da República. (…) Temo o pior por aquilo que vai ser o comportamento do grupo parlamentar que já é, muitas vezes, bastante indigno. Temo o pior por aquilo que vai ser a Assembleia da República”, afirmou João Costa, questionado pelos jornalistas sobre o artigo de opinião que escreveu no “Expresso” sobre o resultado das legislativas do passado domingo.
O governante falava à comunicação social à margem da apresentação da nova campanha "Portugal Chama. Por Si. Por Todos. 2024-2026", que decorreu esta manhã, em Lisboa, e onde participou num painel dedicado ao papel das escolas e da comunidade escolar na prevenção aos incêndios rurais.
Quanto à passagem no artigo em que admitiu sentir vergonha pelos alunos que se sentaram nas galerias do Parlamento e assistiram a situações destas, João Costa elaborou. “Muitas vezes estamos a falar, e com razão, de problemas de disciplina, comportamentos e atitudes nas salas de aula, e a melhor educação é o exemplo. Quando temos alunos de escolas, a sentar-se nas galerias e a assistir a documentários misóginos, acho que temos o pior exemplo que se pode dar”, advertiu.
Preocupado com o crescimento do populismo
João Costa admitiu ver com “preocupação e a tristeza o crescimento do populismo, de uma direita alinhada com ideologia xenófoba, misógina, homofóbica”. Recorde-se que a bancada do Chega passará de 12 para 48 deputados.
Sobre uma possível coligação da AD com o Chega para a constituição do Governo, João Costa remeteu a decisão para a aliança. “Aquilo que entendo e que escrevi, de facto, no artigo do 'Expresso', é que o PS não pode entregar a oposição ao Chega", referiu o ainda ministro, defendendo que "o PS é um partido de alternativa".
Enquanto militante socialista, João Costa admitiu que há pontos “convergentes” entre os programas da AD e do PS, havendo assim, a possibilidade de existirem “entendimentos” e “momentos de acordo” durante legislatura que se segue. Questionado se a recuperação do tempo de serviço dos professores poderia ser um desses possíveis entendimentos, o governante considerou que sim, sendo "um ponto comum” entre os partidos e proposto, aliás, em todos os programas nestas eleições.
PS não deve anular-se enquanto "principal partido da oposição"
Mas o ainda ministro da Educação deixou claro que o PS não se deve anular enquanto "principal partido da oposição", considerando esse cenário “muito mau para a democracia”. “Seria ter uma oposição única entre partidos democráticos de um lado e aquilo que é um partido populista e antissistema”, justificou.
Instigado se não haverá uma contradição sobre o PS não ter disponibilizado o dinheiro para esta recuperação durante a legislatura e propô-la no programa eleitoral, João Costa lembrou que a prioridade foi vincular cerca de 22.500 professores durante o ciclo político.
Confrontado se o PS também contribuiu para a atual instabilidade governativa e os resultados das eleições, João Costa defendeu que a explicação para o crescimento do populismo é “complexa”, devendo-se a diversos fatores desde as redes sociais ao aumento da desinformação.
“Todos nós vamos ter que fazer uma reflexão muito profunda e muito séria, com todos os partidos democráticos e toda a sociedade. E também os sistemas educativos porque sabemos como é o voto dos jovens, têm que fazer uma reflexão sobre esta deriva a que estamos a assistir, não apenas em Portugal, em todo o Mundo”.
O governante disse ainda sair descansado do cargo que ocupou estes últimos dois anos, slubinhando que a educação é “sempre um trabalho incompleto” e um “setor sempre de grande contestação e agitação”.