O ministro da Educação afirmou, esta terça-feira, que há razões para o país estar "vaidoso" com os resultados do relatório da OCDE, falando num "salto absolutamente extraordinário" nos últimos 50 anos, com mais jovens a frequentarem o secundário e superior. Admite, contudo, que é preciso valorizar o profissional.
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"Há quem olhe e veja o copo meio cheio, há quem olhe e veja o copo meio vazio e há quem olhe e não veja nenhum copo e ache que já está tudo entornado", notou o ministro da Educação no discurso que encerrou uma sessão de apresentação do novo relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) "Education at a Glance 2023" que traça o retrato do ensino, do pré-escolar ao superior, em 48 países.
No evento que decorreu na Escola Secundária Lúis Freitas Branco, em Paços de Arcos, Oeiras, neste dia em que arranca o novo ano letivo, João Costa admitiu estar "otimista" com os resultados. "Não no agora", mas no que estas estatísticas podem dizer sobre o "salto absolutamente extraordinário" que Portugal deu nas últimas cinco décadas. Embora admita que há muito a fazer para dar resposta sobretudo a crianças com três anos em determinadas zonas do país e em valorizar o ensino profissional, que ainda é olhado "com estigma".
"Não é aceitável - e chegam-nos relatos - um aluno ouvir dizer 'não vás para o ensino profissional porque és bom aluno'. Isto é mesmo a velha máxima salazarenta de que quem serve para trabalhar, não serve para estudar e quem serve para estudar não vale a pena trabalhar", afirmou na cerimónia, revelando que "há alunos do profissional a desenvolverem projetos de elevada qualidade na área da programação e da robótica, que têm uma porta aberta para várias licenciaturas de engenharia, e não conhecem essa oportunidade".
"É preciso haver este conhecimento porque o estigma alimenta-se do desconhecimento", disse.
O ministro enalteceu alguns dos aspetos positivos. "Basta ver - e nunca é demais lembrar - que há apenas 50 anos 26% da população era analfabeta. Não precisamos de recuar tanto, basta recuar 30 anos quando 55% dos jovens abandonavam o ensino antes de terminarem o 9º ano, na altura o ano da escolaridade obrigatória". Nesse sentido, o governante recordou os tempos do 8º ano em que viu colegas a deixarem a escola. Da turma com 34 alunos, apenas três prosseguiram para o 9º e metade dos que reprovaram acabaram por desistir dos estudos, lembrou.
"Temos razões de orgulho, temos razões para estarmos vaidosos enquanto país, não estou aqui a falar por este ciclo político, nem por este ano. Os dados dão-nos motivo para apontar caminhos para a decisão", resumiu o governante.
João Costa salientou ainda outros dados, como o aumento de jovens que optaram por prosseguir estudos no ensino superior. "O facto de termos passado de uma percentagem - que já chegou a ser 1% - dos jovens a frequentar o ensino superior de 33%, em 2015, para 44%, em 2022, isto significa que estamos a servir melhor os jovens, a garantir um futuro melhor para eles, para as suas famílias e para todos", afirmou o governante, salientando a correlação favorável entre a formação da população e um desempenho económico positivo.
Quanto à percentagem de adultos que não completaram o ensino secundário, João Costa saudou o facto de esse valor ter baixado de 33%, em 2015 para 17% em 2022. Não obstante, o ministro admitiu que "ainda há muitos para qualificar". "Esta é uma evolução que tem uma velocidade e um ritmo de que não podemos abdicar", advertiu.
Sem "deslumbres", João Costa salientou ainda que Portugal conseguiu taxas mais superiores de cobertura da escolaridade do pré-escolar do que a OCDE, quando a rede pública do país surgiu apenas há 25 anos. Um dado que enumera entre tantos outros "animadores", embora sem "fechar os olhos" ao que falta fazer para dar resposta sobretudo a crianças com três anos em determinadas zonas do país.
"Estudar compensa"
Para João Costa, o relatório da OCDE deixa uma mensagem clara que contradiz a "cantiga" de que não vale a pena estudar. "Estudar compensa. Quem estuda tem mais emprego, tem melhores remunerações. E quanto mais se estuda, mais se consegue".
Porém, o governante admite que há ainda "muito para fazer" em termos de igualdade de género quando os jovens chegam ao mercado de trabalho (apesar de as mulheres estarem em maioria nas universidades, são os homens que ocupam os lugares de topo e chefias nas empresas, disse), bem como os gastos por aluno, que baixaram no primeiro ano da pandemia. O relatório mostra que a despesa por aluno em Portugal, em todos os níveis de ensino, fixava-se, em 2020, pelos 10,105 euros, menos 1700 que a média da OCDE.