O Parlamento rejeitou as moções de rejeição ao programa do Governo, apresentadas por PCP e BE. Os diplomas foram chumbados por PSD, Chega, IL e CDS, com a abstenção do PS. O PAN votou contra a moção comunista e absteve-se na bloquista. O chumbo do programa - que nunca esteve em causa - implicaria a queda do Executivo.
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Participaram na votação 228 dos 230 deputados. A moção do PCP teve 138 votos contra, 77 abstenções (os deputados do PS) e apenas 13 a favor. A do BE registou mais uma abstenção (a do PAN) e, consequentemente, menos um voto contra.
No final, os deputados de PSD e CDS aplaudiram o desfecho de pé. O momento das votações, em que os deputados se levantam para indicar o sentido de voto, foi marcado por algumas provocações de deputados do Chega, que realçaram, com gestos e ruídos irónicos, a pequena dimensão das bancadas à Esquerda do PS.
Tanto BE como PCP fizeram uma declaração de voto oral. A líder bloquista, Mariana Mortágua, colou a Direita à "instabilidade" e criticou as "subtilezas artificiais" que marcaram o debate: "O PSD diz que quer governar mas, na verdade, agradece se for impedido de o fazer; o PS não viabiliza moções de rejeição mas desafia o Governo a apresentar moções de confiança", destacou.
Referindo-se ao Chega, Mariana Mortágua acusou-o de ora dizer que quer ser "oposição ao sistema", ora "implorar para ir para o Governo com um partido do sistema". Considerou que o partido votou as duas moções "envergonhado" ao lado de PSD e IL.
A bloquista vincou que o programa do Governo promete uma "mudança feita de ideias velhas", criticando a "cassete" repetida pela Direita "ano após ano": "No passado já se desceu o IRC em 15% em nome do crescimento", notou, frisando que essa solução - assente ainda nas privatizações e na desregulação dos direitos laborais -, se traduziu num "investimento anémico" e numa economia "viciada" no "rentismo" e em "sectores especuladores que vivem à sombra do Estado".
A líder parlamentar do PCP, Paula Santos, revelou ter apresentado a moção para que todos os partidos assumissem "as suas responsabilidades" neste regresso da Direita ao poder. "Esse objetivo foi atingido", declarou, sublinhando que ficou claro quais são os partidos que se "associam ao retrocesso".
No entender da comunista, a votação "deixa claro quem se opõe, quem apoia e quem contemporiza com as opções das políticas de Direita". Argumentou que os partidos que chumbaram as moções defendem o regresso "ao tempo de má memória da troika" e do favorecimento dos "grandes interesses".
Nesse sentido, Paula Santos considerou que o programa do Governo não só "não dá resposta" aos problemas do país como "ainda os agravará". Numa referência indireta ao Chega, criticou os deputados que permitiram o chumbo das moções: "Por mais que falem com voz grossa, no momento da verdade lá estão a dar a mão a estas opções", denunciou.