O presidente do PSD apelou hoje aos eleitores para que votem com o mesmo sentido de responsabilidade que exigem aos políticos, e criticou os que “sobem tom” na reta final de campanha e exercem “chantagem psicológica”.
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Num almoço em Gondomar (Porto) no penúltimo dia de campanha, Luís Montenegro disse querer ir “direto ao assunto”, falando apenas 15 minutos, cerca de metade da duração habitual das suas intervenções. “No momento em que os outros aumentam o tom, aumentam o drama, aumentam a forma enfática como se dirigem aos eleitores, eu faço o contrário, eu sereno os ânimos e digo simplesmente, eu tenho toda a confiança no julgamento do povo português”, afirmou.
Montenegro criticou os que, na comunicação social, falam em nome dos portugueses e do que eles, alegadamente, pensam, sentem ou devem fazer com o voto no próximo domingo, e os adversários políticos que dramatizam argumentos a um dia e meio de terminar e campanha.
“Aqueles que guardam para a última hora, para os últimos dias essa forma de esgrimir argumentos, de elevar a voz, de estimular quase uma chantagem psicológica junto dos eleitores não sabem o que é ser português, não sabem o que é ser verdadeiramente democrata, porque a democracia é um exercício tranquilo, de respeito, de tolerância”, afirmou.
O líder da AD (coligação PSD/CDS-PP) assegurou que aceitará “qualquer que seja o resultado” das, mas disse ter uma certeza: “Nós sabemos que somos os preferidos”.
“Aquilo que eu peço aos eleitores é que exerçam o seu direito e dever cívico exatamente com a mesma exigência com que querem que nós exerçamos os cargos políticos” com sentido de responsabilidade”, afirmou, dizendo querer estabelecer este contrato de confiança com os portugueses.
"O país não vai acabar” sem maioria estável
Também esta quinta-feira, em declarações aos jornalistas no final de uma visita a uma exposição sobre o fundador do PSD, Francisco Sá Carneiro, na Câmara Municipal do Porto, Montenegro disse que fez “tudo o que podia” para que os portugueses votem “por uma maioria que garanta estabilidade”, mas desdramatizou se os resultados eleitorais não permitirem esse caminho.
“A democracia é um sistema que encontra sempre saída e, portanto, eu não vou estar aqui a dizer que o país vai acabar na segunda-feira se não houver uma maioria que garanta esta estabilidade. O país não vai acabar”, afirmou.
No entanto, defendeu que, se os portugueses não querem ter eleições todos os anos e querem “dar condições para o Governo continuar o seu trabalho”, devem concentrar os votos na AD - Coligação PSD/CDS-PP. “A dispersão do voto é um caminho para mais instabilidade, mais incerteza e, eventualmente, uma legislatura interrompida”, alertou.
Questionado sobre se fez o que era preciso para isso ou se cometeu erros nesta campanha, respondeu: “Eu acho que toda a gente comete erros, ninguém é infalível, não era eu que iria ser diferente. Agora, que fiz tudo aquilo que podia, que estou a dar tudo aquilo que tenho para dar, isso não há dúvida nenhuma”.
"Reerguer o PSD de baixo para cima"
Acompanhado pelo presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, e pelos seus ministros Paulo Rangel, Pedro Duarte e Nuno Melo, Luís Montenegro disse que Sá Carneiro foi a sua fonte de inspiração desde que muito jovem se começou a interessar pela política.
O atual primeiro-ministro fez mesmo paralelismos entre alguns dos principais combates políticos que Sá Carneiro travou e aqueles que agora ele enfrenta, a começar pelas eleições intercalares de dezembro de 1979, que a AD venceu, e das quais partiu dez meses depois para o objetivo renovado de governar quatro anos com maioria absoluta no parlamento.
“Sá Carneiro, que já tinha tido maioria em 1979, fez a campanha em 1980, precisamente com o objetivo de ter uma maioria maior”, assinalou Luís Montenegro. A seguir, defendeu que, após chegar à liderança do PSD, em julho de 2022, não teve de fundar o partido, como Francisco Sá Carneiro, mas teve a missão de “o reerguer” como maior força política da oposição face a um Governo socialista de maioria absoluta.
“Propus-me reerguer o PSD de baixo para cima, ir ao encontro do país e reanimá-lo em todos os concelhos. Fiz um périplo que aliás me levou aos 308 municípios de Portugal - e foi muito com esta inspiração que esteve na base do PPD. Um partido popular e interclassista. Podiam ser tanto os profissionais liberais, o advogado, os engenheiros, os arquitetos, como também os operários, os eletricistas – os mais dinâmicos nas suas áreas de atividade eram os mais reconhecidos, os mais dinâmicos”, referiu. Neste contexto, o atual líder dos sociais-democratas defendeu também que o partido conserva a matriz ideológica que esteve na base da sua fundação em 1974.
Nem o Estado nem o mercado resolvem tudo
Luís Montenegro considerou que o PPD de Sá Carneiro tinha “uma janela ideológica relativamente limitada, um bocadinho comprimida entre o socialismo de um lado e a democracia cristã do outro”. “Mas acabou por se erguer como um grande partido, o partido que nós dizemos muitas vezes que é o partido mais popular de Portugal e em muitos momentos históricos, como é o caso agora, o maior partido popular”, sustentou.
O presidente do PSD aproveitou este tema para retomar sua tese de que, do ponto de vista ideológico, o seu partido não é socialista nem liberal. “Não somos socialistas, não somos liberais - exatamente aquilo que está ali nos textos da época da fundação. Não acreditamos que o Estado resolva tudo, mas também não acreditamos que o mercado resolva tudo por si”, acentuou, dando como exemplos da necessidade de Estado social os setores da saúde, educação ou habitação.
A exposição apresenta fotografias e documentos do PPD, alguns deles secretos, designadamente do período pós 25 de Abril de 1997. Tem uma pasta só dedicada ao Processo Revolucionário em Curso (PREC) sobre a atuação das Forças Armadas e o IV Governo Constitucional de Vasco Gonçalves.