Em 2020 morreram 4609 vítimas de cancro do pulmão, segundo o mais recente relatório do Observatório Nacional das Doenças Respiratórias (ONDR). A introdução de um exame diagnóstico aumentou a esperança de vida dos doentes oncológicos. Os dados sobre a saúde respiratória em Portugal foram apresentados esta sexta-feira.
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Em 2020 morreram 4609 vítimas de cancro do pulmão, ou seja, 12 pessoas por dia, sendo que a doença respiratória foi responsável por 3,9% dos 124 mil óbitos registados nesse ano, sem contabilizar as vítimas da covid-19. A mortalidade associada a este tumor tem-se mantido estável, com ligeiras variações nos últimos três anos observados: 4621 mortes em 2018, 4703 em 2019 e 4609 em 2020.
Estes são alguns dos resultados da 15.ª edição do relatório, desenvolvido por especialistas da área da saúde respiratória em Portugal., com base nos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), do Registo Oncológico Nacional (RON) e da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS).
"É de salientar um aumento da esperança de vida dos doentes com cancro do pulmão pelos diagnósticos conseguidos mais cedo, em parte pela introdução da biópsia líquida", explicou, ao JN, José Alves, presidente da Fundação Portuguesa do Pulmão (FPP), acrescentando que por norma estas pessoas vivem até dois anos com a doença.
Os dados mostram uma subida de cerca de 20% dos diagnósticos de cancro do pulmão: em 2018, 4424 pessoas foram diagnósticas e 5028 em 2019. O pneumologista sublinhou também a importância do uso da terapeutica-alvo "mais dirigida à genética de cada um dos cancros" e da imunoterapia que "estimula as defesas imunológicas" no combate a este tumor maligno.
Segundo o ONDR, a mortalidade diminuiu em quase todas as doenças respiratórias de 2018 para 2019, sendo que, na sua globalidade, foram responsáveis por 11243 (9,6%) dos óbitos registados em Portugal, durante o ano de 2020 - descontando o efeito da Covid-19. As mortes por doenças respiratórias "aumentaram durante vários anos, mas a proporção atual é inferior quando comparada com a mortalidade geral", apontou, na apresentação do estudo, Agostinho Marques, pneumologista da Fundação Portuguesa do Pulmão.
No ano de 2020, as pneumonias foram responsáveis por 4351 mortes. Já a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) por 2356. "É uma doença com uma mortalidade grande. Em alguns sítios do mundo é já a terceira causa de morte geral", alertou Agostinho Marques. Para o pneumologista, "a própria natureza" dos inúmeros casos de DPOC em Portugal "continua a ser desanimadora": o SNS identificou cerca de 130 mil casos, mas os números médios de epidemiologia apontam para cerca de 700 mil, explicou.
Morreram ainda 171 pessoas com tuberculose. Ainda assim, entre 2014 e 2019, a doença respiratória "diminuiu quer em termos de mortalidade quer em termos de incidência", revelou Agostinho Marques.
15,4% dos jovens fumam
Entre 2014 e 2019, "os hábitos tabágicos diminuíram quer nos homens quer nas mulheres", apontou José Alves, recorrendo aos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). A maioria dos fumadores continuam a ser homens. Em 2014 27,8% dos homens fumava, número que diminuiu para os 23,9% em 2019. Já o número de mulheres fumadoras reduziu-se, respetivamente, de 13,2% para 10,9%. "É nota de conforto, dá a ideia que os esforços que estão a ser feitos estão a ter resultados", advertiu Agostinho Marques. Sublinhando não só uma diminuição de fumadores, "mas até do número de cigarros por pessoa".
"Os dados relativos às faixas etárias mais novas são menos positivos", advertiu José Alves, apontando que 15,4% dos jovens entre 15 e os 24 anos são fumadores.
José Alves refere também que o estudo mostra ser possível fazer uma espirometria - exame que avalia a função respiratória dos pacientes - fora dos hospitais através de um pequeno aparelho móvel. "Só nos fins de semana de junho e julho deste ano a clínica [virtual] da fundação recebeu 1200 rastreios", avançou.
Os principais resultados do relatório foram apresentados esta sexta-feira num evento promovido pela Fundação Portuguesa do Pulmão (FPP), no Porto. Foi ainda atribuído o Prémio de Personalidade do Ano aos médicos que estiveram na linha da frente ao combate à pandemia da covid-19, representados pelo bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães.