José Carlos Saldanha, o homem que se levantou na Assembleia da República e rogou por tratamento médico à hepatite C, morreu esta sexta-feira, em Lisboa.
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José Carlos Saldanha morreu esta sexta-feira, no hospital de Santa Maria, em Lisboa, onde estava internado. Natural de Moçambique, tinha 55 anos e residia na capital portuguesa.
Fonte do hospital disse ao JN que José Carlos Saldanha, que tinha ficado curado da hepatite C em 2015, esteve internado na última semana, mas que o estado de saúde se agravou na sequência de uma septicemia, uma infeção generalizada no organismo.
Ficou conhecido durante uma audiência ao então ministro da Saúde, Paulo Macedo, a pedido do PCP, a 4 de fevereiro de 2015. José Carlos Saldanha interrompeu os trabalhos e fez um apelo ao Governo, que estava a negociar o preço do medicamento com a farmacêutica.
"Não me deixe morrer", disse José Carlos Saldanha, que assistia à audiência ao lado do filho de uma mulher que falecera vítima de hepatite C. Este apelo, no dia em que várias pessoas se manifestaram no exterior do Parlamento, alertou a sociedade para o problema destes doentes. Na altura, em Portugal, o tratamento custava cerca de 50 mil euros e era inacessível à maioria dos doentes.
O acordo entre o Estado e o laboratório que fornece os medicamentos inovadores para a hepatite C foi formalizado dois dias depois, a 6 de fevereiro de 2015, tendo sido apresentado pelo então ministro da Saúde, Paulo Macedo.
Um ano depois, em 2016, a presidente da Associação SOS Hepatites, Emília Rodrigues, fez um balanço da aplicação das novas terapêuticas disponibilizadas em Portugal. "Até este mês de abril, temos cerca de 9100 doentes em tratamento e temos cerca de 2050 curados", disse.
Seis meses depois, em outubro de 2016, eram já mais de três mil os doentes curados. A lista foi aumentando ao longo dos anos e o tratamento chegou a milhares de pessoas, entre estas figuras públicas como o vocalista dos GNR, Rui Reininho, que ficou curado, ou o ex-guitarrista dos Xutos & Pontapés, Zé Pedro, que viria a morrer cerca de três semanas depois de iniciar o tratamento, em novembro de 2017.
Reininho começou o tratamento em fevereiro de 2015 e no final desse mesmo ano foi declarado curado, ao fim de uma luta de 26 anos contra a doença, que o levou a pensar em emigrar e no suicídio. O vocalista dos GNR disse, então, que tinha "orgulho" no país onde vive, uma vez que, atualmente, o tratamento para a hepatite C está disponível a todos os doentes.