Mortágua responde a Moreira: "Tenho um problema, sim. Com as desculpas para virar a cara"
Rui Moreira acusou Mariana Mortágua de tentar "construir uma narrativa à volta de uma inverdade" acerca do papel do presidente da Câmara do Porto em relação à manifestação de extrema-direita que aconteceu no sábado, na cidade. A líder bloquista aponta as balas a uma "política que reproduz o racismo".
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"Ataques racistas no Porto, Moreira propõe trocar a agência para a integração de imigrantes por reforço policial. Uma manifestação celebra o crime, Moreira indigna-se contra o 'berreiro da esquerda'. Tenho um problema, sim. Com o racismo, a política que o reproduz e as desculpas para virar a cara", escreveu Mariana Mortágua, numa mensagem publicada esta segunda-feira à noite na rede social X (antigo Twitter), em reação a declarações do presidente da Câmara do Porto, que hoje acusou a líder bloquista de ter "um problema com a verdade".
Rui Moreira falava hoje novamente sobre o facto de não se ter oposto à realização de uma manifestação convocada pelo partido de extrema-direita Ergue-te, que se realizou no sábado de manhã, com a autorização da PSP, no Bonfim, na mesma zona onde aconteceram recentemente ataques de cariz xenófobo. Quando questionado sobre declarações proferidas pela líder do Bloco de Esquerda, que disse que Moreira estava a "optar pela narrativa da extrema-direita" no discurso que tem mantido em relação ao protesto, o autarca do Porto voltou a defender que, enquanto presidente da Câmara, não tem autoridade para impedir uma manifestação e visou Mortágua.
"Tenta construir uma narrativa à volta de uma inverdade"
"Acho que ela tem um problema com a verdade, acho que tem sido notório desde a campanha eleitoral, tem um problema de facto e, neste caso, mais uma vez tenta construir uma narrativa à volta de uma inverdade", afirmou Rui Moreira, numa conferência de imprensa conjunta com Carlos Moedas, em que os dois presidentes de Câmara defenderam o reforço policial no Porto e em Lisboa.
Voltando a desafiar a alteração da lei pela Assembleia da República, Rui Moreira reiterou que as manifestações "não são autorizadas" pelas autarquias, mas comunicadas a elas pelas forças de segurança, pelo que não poderia impedir a iniciativa do Ergue-te ou de outras manifestações que decorreram na cidade, pois estaria a cometer um crime se o tivesse feito. "Acontece que o Bloco de Esquerda sabe isto perfeitamente", referiu, acrescentando que, enquanto for presidente, a "Câmara Municipal do Porto cumpre a Constituição e fará sempre o possível por cumprir a lei".
Disse ainda que o Ergue-te é "um partido reconhecido" e que o Bloco de Eesquerda "vai ter de disputar eleições com um partido legítimo e que foi autorizado pelo Tribunal Constitucional a constituir-se como partido e a concorrer às eleições europeias".
Mortágua acusou Moreira de "optar pela narrativa da extrema-direita"
No sábado, numa visita à Senhora da Hora, em Matosinhos, a coordenadora do Bloco de Esquerda acusou quem quer "transformar um ataque racista num problema de imigração" de ter uma "posição cobarde" e alertou que a extrema-direita quer "dar um contexto" a crimes racistas. E criticou Rui Moreira por ter permitido a realização do protesto: "Eu lamento que o presidente da Câmara do Porto, entre uma defesa intransigente desse Portugal, desse Porto como uma cidade aberta, esteja a optar pela narrativa da extrema-direita."
No dia anterior, em conferência de imprensa, Rui Moreira tinha defendido que a lei não lhe permitia não autorizar uma manifestação e que não ia impedir protestos “mesmo debaixo do berreiro da esquerda”. "Só pode dizer que a lei não permite quem tentou alguma coisa para impedir a manifestação, Rui Moreira disse que não tentou, ele disse que faça a extrema-esquerda o barulho que quiser, a manifestação vai realizar-se", apontou Mariana Mortágua.