Há sete anos que não havia um primeiro trimestre com tão pouca sinistralidade grave no nosso país. É preciso recuar a 2013 para ter um número de acidentes com vítimas mais baixo do que entre janeiro e março deste ano.
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Só que, apesar dessa redução fortemente marcada pelo desacelerar do quotidiano por força da pandemia, a morte de peões nas estradas mantém-se inalterada. Choram-se 23 vidas em 2020, o mesmo número do que em igual período de 2019.
O relatório de sinistralidade rodoviária do primeiro trimestre deste ano, divulgado ontem pela Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), dá conta de uma diminuição generalizada nos atropelamentos (menos 281 do que em 2019), nas colisões (menos 788) e nos despistes (menos 234). No entanto, as consequências continuam a ser graves. Se nas colisões e nos despistes, a mortalidade baixou mais de 30% em relação aos primeiros três meses de 2019, esse abrandamento não sucedeu nos atropelamentos. Até morreram mais peões em 2020 em acidentes de viação do que em igual período de 2016 e de 2017. E, percentualmente, essa fatalidade representa um peso muito maior no número global de vítimas mortais do que nos anos anteriores, correspondendo a 28% das 82 mortes nas estradas neste ano.
Quebra com emergência
A mortalidade dentro das localidades também não reflete melhorias, embora as autoridades tenham sido chamadas para menos 1055 sinistros. Nos 5393 acidentes registados dentro das localidades, morreram 54 pessoas, o mesmo número do que em 2019.
A grande diferença está na sinistralidade fora das localidades, onde houve menos 248 acidentes com vítimas e o número de mortes baixou para metade (28). E foi fator decisivo para que Portugal chegue ao final do primeiro trimestre com um número global mínimo de vítimas mortais (82).
Sem surpresa, a primeira declaração do estado de emergência a 19 de março conduziu a uma quebra abrupta de que não há memória na sinistralidade rodoviária nacional. Entre 19 e 31 de março, os acidentes tiraram quatro vidas: duas em despistes e duas em atropelamentos. Em 2019, a sinistralidade viária matou 17 pessoas na segunda quinzena de março, porém, verificou-se o mesmo número de mortes por atropelamento: duas. De um modo geral, o número de feridos graves (menos 66,7%) e de feridos leves (menos 74,9%) também é substancialmente menor na comparação com a mesma quinzena do ano passado.
Distritos
Mortalidade em Lisboa mais do que duplicou
Todos os distritos, à exceção de Portalegre, registam uma diminuição significativa no número de acidentes nos primeiros três meses de 2020, em comparação com o ano passado. Essa redução é acompanhada por uma menor mortalidade na generalidade das regiões. Lisboa não segue essa tendência e sobressai. O número de vítimas mortais mais do que duplicou: sete mortes em 2019 e 17 em 2020. Leiria teve um aumento ligeiro.
À lupa
1666 acidentes com vítimas só em março
Corresponde a um decréscimo de 41,7% em relação a igual período de 2019. Na última década, não há registo de um mês com tão poucos acidentes graves. Em março de 2020, houve 29 mortes. Só menos cinco do que em março de 2019.
Menos testes a álcool
Na vigência do estado de emergência, entre 19 e 31 de março, as autoridades detetaram menos alcoolizados na estradas. Só 103 infrações. A redução ascende a 92% em relação à mesma quinzena de 2019. No entanto, também houve uma diminuição substancial no número de testes feitos: de quase 70 mil em 2019 para 9412 em 2020.