Com a procura a superar em 12 vezes a oferta, o resultado do 2.º Concurso de Estímulo ao Emprego Científico (CEEC) fechou com uma taxa de aprovação de 8%.
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Para os 300 contratos de trabalho disponibilizados, concorreram 3631 investigadores doutorados. Números criticados pelos investigadores, que lançam agora o "Movimento 8%", para denunciar a precariedade na Ciência nacional.
A ideia do movimento surgiu de um grupo de investigadores da Universidade do Minho que passaram a palavra a outros colegas do vários centros que existem no país. Numa realidade a preto e branco, para que se perceba a dimensão do problema: a preto, na fotografia que ilustra este trabalho, os investigadores que não conseguiram um contrato de trabalho por seis anos ao abrigo do CEEC; a branco, os que o conseguiram.
Num comunicado enviado ao JN, aqueles investigadores frisam que os resultados deste último concurso "contrariam um "cenário de pelo emprego científico" em Portugal, como advoga o ministro da Ciência Manuel Heitor". Os números compravam-no: "A verdade é que 92 em cada cem investigadores doutorados não conseguiram assegurar o seu salário".
De fora do concurso, dizem, ficaram "investigadores de renome internacional, responsáveis por equipas produtivas e competitivas no panorama mundial, com projetos do Conselho Europeu para a Investigação [as milionárias bolsas ERC], vencedores de prémios nacionais e internacionais de elevado prestígio". Cientistas que, agora, estão "em situação iminente de desemprego".
O último concurso, aliás, tinha sido notícia por deixar de fora dois prémios Pessoa: Maria Manuel Mota e Irene Pimentel (que voltou a não conseguir um contrato neste último CEEC). Cientistas de topo de carreira que se juntaram aos 3600 que não conseguiram naquele concurso um vínculo. Apenas 515 o obtiveram.
Também a Associação dos Bolseiros de Investigação Científica critica os resultados, frisando que "este CEEC veio apenas confirmar que o "pleno emprego" anunciado" por Manuel Heitor "está longe de constituir a realidade dos que fazem Ciência em Portugal".
Outros dados
32% são estrangeiros
Quase um terço dos candidatos neste último concurso eram de nacionalidade estrangeira, contra 25% no anterior. A maioria eram de Espanha e Itália.
Só um coordenador
Dos dez que concorreram a uma posição de investigador coordenador só um o conseguiu. A maioria (158) conseguiu um contrato para investigador júnior.