Estudo sobre alimentação confirma que desigualdade entre géneros mantém-se.
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As mulheres portuguesas dedicam mais cerca de 18 minutos por dia à confeção de refeições do que os homens. A conclusão é do estudo “Como comemos o que comemos – Um retrato do consumo das refeições em Portugal”, divulgado hoje pela Fundação Francisco Manuel dos Santos. Amanhã, assinala-se o Dia Internacional da Igualdade Feminina.
“O tempo médio diário dedicado pelas mulheres à confeção de refeições e atividades relacionadas é sempre superior ao alocado pelos homens, qualquer que seja o país analisado: cerca de mais 18 minutos em Portugal, dez minutos na Bélgica, 24 minutos no Reino Unido e 30 minutos nos EUA”, revela o estudo coordenado por Ana Isabel Costa, investigadora da Universidade Católica.
O documento refere ainda que menos de metade das mulheres portuguesas, que cozinham uma ou mais horas por dia para a família, partilha esta tarefa com alguém. Nestes casos, contam com o apoio do cônjuge ou companheiro/a, dos filhos ou da mãe. Já mais de dois terços dos homens, nas mesmas circunstâncias, repartem essa atividade com o cônjuge ou companheira/o ou com a mãe.
Além de terem inquirido 554 pessoas entre os 18 e os 55 anos, em outubro e novembro de 2021, os investigadores utilizaram fontes documentais que lhes permitiram apurar que “Portugal é um dos países da União Europeia onde as famílias historicamente mais gastam em consumo alimentar não doméstico proporcionalmente ao total da sua despesa”. O hábito de fazer refeições em restaurantes é mais comum nas classes mais altas, com mais escolaridade, nas zonas urbanas, aos almoços e entre os homens.
Os autores do estudo concluíram também que é “significativamente mais provável” que os portugueses que fazem mais refeições em restaurantes, ou em casa de familiares ou amigos, tenham uma “dieta de qualidade inferior e um estilo de vida mais sedentário” do que os que comem sobretudo em casa. A escolha de alimentos associados à dieta mediterrânea, considerada mais saudável, estará, contudo, associada aos rendimentos da família.
Mais tempo à mesa
Os portugueses dedicarão 112 minutos diários ao consumo de alimentos, contra 99 na Bélgica, 79 no Reino Unido e 63 nos EUA, o que representa quase metade do tempo de lazer estimado (241 minutos), o que é explicado com o “enorme envolvimento cultural com a alimentação”. Essa proporção é pouco mais de um quarto nos outros países analisados.
Literacia culinária
Os investigadores recomendam que se realizem mais inquéritos sobre consumo alimentar em Portugal, para atualizar a informação, e sugerem programas de intervenção comunitária de literacia culinária e nutricional, à distância, para aumentar o acesso à informação, como sucede na Austrália, no Brasil e na República da Irlanda.