Aflição na albufeira de Ranhados: Pesqueira, Foz Côa e Mêda podem ficar sem abastecimento. Regras apertadas para regas.
Corpo do artigo
"Sensibilização." É a palavra frequente nas respostas de seis dezenas de autarquias ao JN numa ronda sobre medidas contra a escassez de água, que atinge o dramatismo em São João da Pesqueira, Vila Nova de Foz Côa e Mêda, cujas populações podem ficar sem água em setembro. Pelo menos 23 municípios têm recorrido a abastecimento de dezenas de localidades com camiões-cisterna e cinco admitem fazer cortes se a situação se mantiver. E há mesmo ameaças de multas pesadas para quem use água pública para regar jardins ou hortas.
Num apelo à moderação, a Câmara da Pesqueira avisa que a rutura do abastecimento a partir da albufeira de Ranhados, que também serve Mêda e Foz Côa, ocorrerá no início de setembro se se mantiver o consumo diário de 640 litros por pessoa, "quando o desejável seriam 200". De Almada a Alfândega da Fé, de Matosinhos a Vinhais, 35 câmaras apostam em campanhas de sensibilização.
Uma medida é a redução ou até o corte parcial de abastecimento, pelo menos durante a noite, que as câmaras de Manteigas, Mangualde, São Pedro do Sul, Tabuaço e Vale de Cambra admitem ponderar se a escassez não melhorar em breve.
Na região transmontana, mais de meia centena de localidades é abastecida com viaturas-cisterna. Alguns casos: Vinhais, Macedo de Cavaleiros (mais de dez aldeias), Mogadouro (15 aldeias), Alfândega da Fé (uma zona de abastecimento). Aljustrel, Mértola, Moura, Alcácer do Sal, Santiago de Cacém, Ferreira do Alentejo e Montemor-o-Novo são exemplos no Alentejo.
O problema vive-se também no centro, nomeadamente em Mangualde, São Pedro do Sul (aldeias de nove freguesias), Castro Daire, Tabuaço e Vouzela. Ou em zonas mais húmidas, incluindo no Minho, como Valença, Amares, Terras de Bouro, Vieira do Minho e Cabeceiras de Basto; ou no Douro Litoral, como Paredes e Baião.
Há medidas no terreno. Mais generalizada (36 municípios inquiridos pelo JN) é a contenção (redução de tempos e caudais) ou mesmo a proibição de uso de água da rede pública (há vários casos de recurso a nascentes e furos e Braga usa mesmo um armazenamento de águas pluviais) na rega de jardins (públicos e privados), hortas, enchimento de piscinas e tanques, lavagem de passeios e espaços públicos e pátios.
A Câmara Municipal de Vimioso leva o caso a ponto de ter instituído coimas pesadas: entre 1500 e 3740 euros para pessoas singulares; e 7500 e 44 890 euros para pessoas coletivas. Mais abaixo, São João da Pesqueira - já se disse, aflita com a iminência de ficar sem água brevemente - pratica um agravamento severo do tarifário para os escalões mais altos no período de maio a outubro. Por exemplo, no escalão entre os 16 e os 25 metros cúbicos, o preço de 1,5656 euros por metro cúbico em janeiro passa para 2,0352 euros em julho. Já em Vieira do Minho, o consumo diário em várias freguesias abastecidas com cisterna está limitado a dois metros cúbicos.
Origens alternativas
Outras soluções passam por intervir na origem. Viseu, por exemplo, está a colocar ensecadeiras nos descarregadores de superfície da barragem de Fagilde para aumentar a capacidade de armazenamento da albufeira.
Almada, Vinhais, Abrantes, Mangualde, Castro Daire, Vouzela, Alfândega da Fé e Cabeceiras de Basto são exemplos na procura de origens alternativas para usos "menos nobres" - rega, abastecimento de bombeiros, piscinas - especialmente velhas nascentes, furos e poços e reabilitação de antigas captações, ao passo que Vila Nova de Foz Côa tem em licenciamento o uso, para rega, de efluente tratado de ETAR.
Todas as bacias hidrográficas com menores volumes
Em 31 de julho, todas as bacias hidrográficas tinham diminuído o volume de água comparado com o último dia de junho. Só a bacia do Ave superava a média e as do Cávado (36,4%), Mira (37,2%) e Sado (41,1%) apresentavam os mais baixos. Das 60 albufeiras monitorizadas, cinco apresentam disponibilidades superiores a 80% e 26 abaixo dos 40%.
*com A.B., A.L., A.C.C., A.L.D., A.P.F., G.L., J.R., M.F., N.D., R.M., S.F., T.C. e Z.C.