
Antes das aulas à distância, Andreia vivia sem Internet
Leonel de Castro/Global Imagens
Família de aluna do 10.º ano, de Ponte da Barca, teve de instalar serviço para que possa ter aulas à distância num computador onde faltam teclas.
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Na casa dos Meireles na aldeia de Touvedo, em Ponte da Barca, há a partir de hoje uma lata-mealheiro, onde os quatro elementos da família vão passar a depositar dinheiro para pagar a Internet acabada de instalar.
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Andreia Meireles, de 15 anos, a filha mais nova, começa as aulas à distância amanhã e foi a razão pela qual os pais e a irmã de 25 anos, que já trabalha, decidiram contratar um pacote de telecomunicações, partilhando a despesa de 35 euros por mês. Um computador, a que já faltam duas teclas e que pertenceu à mais velha, será o instrumento de estudo de Andreia, que encara a situação com leveza.
"São as teclas menos usadas. Serve", diz, a sorrir, enquanto explora os novos canais de televisão associados ao pacote. "Antes disto [das aulas presenciais] vivia sem Internet. Às vezes partilhávamos a do telemóvel do meu pai [por hotspot], que era o único que tinha, mas vivia-se bem", diz Andreia, que, mesmo assim, tem contas no Facebook, Instagram e Twitter.
Esta aluna do 10.º ano de Humanidades no Agrupamento de Escolas de Ponte da Barca, que tem 1200 alunos e 134 professores, tinha como alternativa continuar a ir para a escola ou ter as aulas na sede da Junta de Freguesia de Touvedo. O pai decidiu que mais valia "o sacrifício" de assumir um contrato com fidelização de dois anos, para que a filha possa ter aulas a partir de casa.
"Ia a miúda sozinha para a Junta? Não, isso não", comentou José Meireles, de 50 anos, antigo sapador que, em 2004, sofreu um acidente de trabalho e perdeu o olho direito. "Nunca mais consegui arranjar trabalho. Vou fazendo uns biscates. A Segurança Social atribuiu-me 30% de incapacidade e tenho uma pequena pensão", conta, adiantando que o agregado vive com os salários da mulher e da filha mais velha.
Sem direito a computador ou net
No primeiro confinamento, Andreia usou um router emprestado pela escola. "Conseguiu desenrascar bem mas, desta vez, disseram que não tinha direito porque não tem escalão", justifica José. E a filha acrescentou: "Também me iam emprestar um computador, mas disseram que, como tinha escalão C, que é o último, não tinha direito".
Andreia assume que prefere as aulas presenciais, mas diz-se satisfeita com a solução encontrada pela família. "Continuar a ir para a escola punha-se a questão do transporte e também ia estar sempre sozinha. Imagine que tinha uma aula às 8 horas, a que horas tinha de acordar para ir para Ponte da Barca? E se tivesse só aula das oito às dez, e depois só tivesse ao meio-dia, ia ter ficar aquele tempo todo sozinha", explica, acrescentando: "A Junta de freguesia é perto, só que ia estar sozinha. Se tivesse mesmo de ser, ia, mas assim é melhor". E o pai, concluiu: "O problema da Internet está resolvido, o pior vai ser pagar. Está ali a latinha para meter o dinheiro. A dividir por quatro, dá 8,75 euros. A Andreia também tem de ajudar. Quando o avô der uma moedinha, vai para a lata".
Na casa vizinha, que há muito que tem Internet, Joana Valente, de 19 anos, estudante na Universidade do Minho, retomará as aulas online a 18 de fevereiro. A julgar pela experiência do confinamento anterior, terá dificuldades. "Quando estou em aula, se houver alguém mais em casa a usar, a net fica mais lenta. Às vezes há falhas na rede e torna-se um bocado difícil perceber algumas coisas".
