Os lóbis em Portugal têm pouca influência, preferem ser espectadores e só agem quando os seus interesses são afetados. Uma investigação intitulada "Os Grupos de Interesse no Sistema Político Português" analisou a ação dos lóbis em Portugal, a sua visibilidade na imprensa e o seu papel no processo legislativo, entre outros aspetos.
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Coordenado por Marco Lisi, professor associado no Departamento de Estudos Políticos da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e investigador no IPRI-NOVA, o estudo procurou responder às questões: "O que são grupos de interesse? Que objetivos têm e que estratégias adotam? Como evoluíram em Portugal em comparação com outras democracias europeias? Como é que os cidadãos se relacionam com estes grupos, e o que pensam deles? Qual é o seu espaço mediático, e que influência têm nos media? E que impacto têm no processo legislativo?"
Uma das conclusões do estudo foi que "na falta de regulamentação do lóbi, as interações informais entre decisores políticos e grupos de interesse assumem um papel fundamental na arena parlamentar". No entanto, os autores afirmam que, apesar de terem o poder de intervir no processo legislativo para influenciar as políticas públicas e moldar os temas em debate, muitos grupos acabam por ser meramente espectadores e só intervêm quando uma "decisão ou o resultado de uma política afeta diretamente os interesses ou as preferências da sua organização".
Outra das conclusões do estudo foi que "os grupos de interesse desempenham um papel ambivalente nas democracias". Afirmam que podem contribuir para melhorar a representação e a responsabilização. Mas os autores do estudo afirmam que "podem também ter consequências negativas em termos de igualdade democrática e de justiça social".
Na questão da diversidade, explicam que "em Portugal, existe uma grande diversidade de grupos de interesse, sendo que alguns grupos económicos obtiveram um reconhecimento especial através do enquadramento legal e institucional, sobretudo no âmbito da concertação social". "A evolução do regime democrático tem evidenciado uma crescente concentração de poder no executivo, e os grupos de interesse assumem um papel importante no reequilíbrio desta assimetria institucional", complementam.
Portugueses depositam pouca confiança nos lóbis
O estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos também inquiriu a opinião dos portugueses. "Boa parte dos portugueses considera que os grupos de interesse servem sobretudo os seus próprios interesses e deposita pouca confiança neles, principalmente em organizações ligadas à Igreja e nos sindicatos: 49% dos inquiridos diz que "todo o cuidado é pouco" no que toca aos grupos de interesse", explicam.
Além da falta de confiança, os autores também analisaram a representação dos lóbis nos jornais, concluindo que, no período entre 1990 e 2019, os sindicatos foram o grupo de interesse com o maior número de menções nos jornais Expresso e Público. "Mas o seu peso relativo - juntamente com o das associações empresariais ou patronais - tem decrescido em relação à década de 90", complementam.
Outra das conclusões foi que "elaborar pareceres técnicos, intervir nos meios de comunicação social e contactar políticos" são as estratégias privilegiadas pelos grupos de interesse, enquanto a ação na esfera mediática é considerada "o instrumento mais importante para influenciar a opinião pública". O estudo também revelou que os lóbis preferem agir junto do Governo, considerando a Assembleia da República como "secundária".