Marisa e Jorge moram em Torre de Moncorvo com os dois filhos. A mãe confessa a árdua tarefa que é viver no interior.
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Ainda deleitada com o nascimento do segundo filho, Marisa Seixas, 29 anos, sabe que mais uma criança obriga a sacrifícios adicionais quando se vive numa aldeia do interior. Não se importa, está pronta para isso, porque sempre sonhou ter mais do que um filho. "Nunca quisemos ter apenas um e por isso decidimos ter o segundo. O mais velho já tem quatro anos e este era o momento", explica Marisa, funcionária num lar de idosos em Felgar, Torre de Moncorvo, o terceiro concelho do país que registou a maior perda de população (20,4%), segundo os dados do Censos 2021.
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Marisa e Jorge Sousa, 34 anos, o marido, são ambos naturais da União das Freguesias de Felgar e Souto da Velha e decidiram fixar-se por ali. Ela trabalha no lar e ele dedica-se à agricultura. São um casal de classe média que conta com a ajuda da família. Gostam da sua terra, mas sabem que se, por um lado, ali têm qualidade de vida e tranquilidade, também têm muitas dificuldades e contingências, porque os apoios estatais à natalidade são escassos e há falhas no sistema educativo.
Marisa lamenta que existam tão poucas ajudas. "Do mais velho, recebo um abono de família de 28 euros mensais, e cerca de 120 do mais novo, porque estou em licença de maternidade até setembro, com um corte salarial. Só recebo 80% do vencimento. Depois de setembro, posso renovar a licença de maternidade por mais três meses, mas só é paga a 25%", explica.
Único na escola
O menino mais velho frequenta o ensino pré-escolar em Felgar e na maior parte do ano letivo passado foi aluno único. Passava os dias com a professora e a auxiliar de ação educativa. "Ele chorava para um lado e eu para o outro, porque não queria ir à escola, por não ter outras crianças para brincar", conta Marisa. Entretanto, o menino voltou a ser inscrito na mesma escola, só que os pais ponderam transferi-lo para a aldeia ao lado, para que possa ter colegas: "Vou ter que ir levá-lo e buscá-lo, mas paciência, não tenho direito a transporte mas prefiro fazer a viagem".
Este verão, o menino também não pode frequentar as atividades no pré-escolar em Moncorvo porque a mãe está de licença de maternidade e, por isso, não tem direito. "Acho uma injustiça", confessa Marisa que, quando acabar a licença de maternidade, terá que levar o filho mais novo à avó, porque só teria alternativa de creche na vila, a cerca de 15 km. "As pessoas cada vez pensam menos em ter filhos, porque não têm apoios. Nas aldeias, não há creches, escolas, nada. A minha mãe tem rejeitado propostas de trabalho para ficar a cuidar do meu filho mais velho e agora terá de se encarregar do mais novo. Eu e o meu marido temos que trabalhar", diz a jovem.