Santiago veio ao mundo às 12.20 horas da última quarta-feira em circunstâncias muito especiais. Foi o primeiro bebé a nascer no Hospital de S. João, no Porto, com a mãe internada nos cuidados intensivos com covid-19 grave e ligada à ECMO, um suporte respiratório extracorporal que substitui a função pulmonar.
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A cesariana programada decorreu sem problemas e o bebé, com 34 semanas de gestação e 2420 kilos, está na incubadora no Serviço de Neonatologia. A situação da mãe, não vacinada, é "estável", mas continua a merecer "preocupação e atenção especial".
Os primeiros exames feitos ao pequeno Santiago indicam que está tudo bem e o primeiro teste de deteção da SARS-CoV-2 deu negativo. Apesar de ser "altamente improvável" que venha a evoluir para positivo, vai voltar a ser testado.
"O Santiago nasceu bem, a chorar, com bom peso para idade gestacional e encontra-se bem, a respirar sozinho e a ser alimentado com leite", explicou Henrique Soares, diretor da Neonatologia.
Na decisão de avançar para o parto pesaram vários fatores: a idade gestacional do bebé, o facto de já ter tomado medicação para o desenvolvimento pulmonar e a necessidade de mantê-lo dentro da mãe, que está a receber muita medicação, quando já teria capacidade de respirar sozinho cá fora. Além disso, esclareceu Marina Moucho, diretora do Serviço de Obstetrícia, sabia-se que o nascimento também poderia ajudar na parte ventilatória materna.
Santiago ainda não conheceu a mãe. Apesar de "estar acordada, colaborante e bem disposta", a puérpera continua com covid-19 grave, a precisar de cuidados intensivos e ligada ao ECMO.
Roberto Roncon, coordenador do Serviço de Medicina Intensiva do S. João, descreveu-a como uma pessoa "muito corajosa e resiliente" que está a encarar toda a situação com "muito otimismo". "É também uma fonte de ânimo para nós", afirmou.
O médico explicou que se segue "uma fase delicada", de tentar manter a doente com suporte respiratório acordada e de tentar evitar as complicações dos cuidados intensivos, mas notou que há um "forte potencial de recuperação".
As equipas médicas estão agora a criar as condições de logística e de controlo de infeção para mãe e filho poderem encontrar-se.
Falta de informação e aconselhamento médico sobre vacinação de grávidas
A mãe de Santiago foi transferida do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa na semana passada. Não tinha fatores de risco para a covid-19 grave, mas não estava vacinada.
Roberto Roncon afirmou que o caso em concreto vai em linha com a experiência do hospital com grávidas que têm formas graves da doença e que assenta na falta de conhecimento e de aconselhamento médico.
"Muitas vezes não há qualquer reserva contra a vacina, mas há dificuldade de acesso à informação e de esclarecimento das dúvidas que vão surgindo", refere o médico. Quando, à posteriori, conversam com as grávidas para perceber porque escolheram não se vacinar percebem que "na maior parte dos casos não houve um aconselhamento médico".
"Até agora não conheci nenhuma grávida que não estivesse vacinada por se opor à vacina. Ou achavam que não tinham indicação ou que podia haver riscos e não chegaram a falar do assunto com médico de família ou obstetra", referiu Roberto Roncon.
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