Neeleman denuncia "ingerências e pressões inaceitáveis" do poder político sobre a TAP
Antigo acionista da TAP denuncia "ingerências e pressões inaceitáveis do poder político sobre a comissão executiva da TAP", bem como "graves erros da gestão pública" da companhia aérea. Diz que vai em breve responder a todas as questões sobre a empresa na CPI.
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"Não posso remeter-me ao silêncio perante o que parece ser uma estratégia clara de ex-governantes de esconder os seus erros e desviar a atenção do que foi realmente a gestão pública da TAP nos últimos anos, à custa da minha honra e reputação", assevera David Neeleman, antigo acionista da companhia aérea, num artigo de opinião que assina esta quarta-feira no "Observador" e onde deixa alguns recados às personalidades políticas que têm sido ouvidas pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à TAP, onde o próprio também será ouvido.
Sob a premissa de que "uma mentira repetida muitas vezes não se torna verdade" - é esse o título do artigo -, Neeleman reitera "a única verdade sustentável pelos factos, documentos e pareceres indisputáveis: a proposta da Atlantic Gateway para a compra da TAP foi transparente e explicada em pormenor à Parpública em 2015, antes de a privatização ser concluída e com todo o detalhe que nos era - e bem - exigido".
Ou não dizem a verdade ou nunca consultaram os documentos
"Assim, o Governo do PSD e CDS conheceu e aprovou a nossa proposta. Agora, sete anos depois, alguns membros do Governo do PS dizem que não sabiam do assunto, numa tentativa de se exonerarem de responsabilidades que qualquer governante responsável e competente sabe que são suas quando assume o poder", escreve. Ou seja, ou os governantes "não dizem a verdade ou nunca consultaram os documentos" entregues à Parpública e ao Executivo de Passos Coelho nem os pareceres dados na altura. Uma "hipótese que não deve ser aceitável para nenhum contribuinte", tendo em conta que a Parpública é "uma empresa do Estado, tutelada pelo ministério das Finanças, e não uma sucursal do Governo A ou B", lembra.
"Então depois de tantos ministros e secretários de Estado, de tantos administradores que passaram pela TAP e tantos advisors, bastam-se com o encolher de ombros e dizer que não leram os documentos num dossier tão relevante para o país?", lança, questionando também os governantes porque é que, ao longo dos últimos sete anos, não consultaram aquele que foi "o assessor do Governo socialista em todo o processo da reversão parcial e que depois se tornou administrador da TAP, peça chave de toda a negociação". "E, se não estavam de acordo, porque não pararam a capitalização dos ditos fundos Airbus que foram aportados em tranches ao longo do ano de 2016, quando já eram os governantes?", escreve ainda.
O ex-acionista da TAP assegura que responderá muito em breve a todas as perguntas da CPI e que irá esclarecer "como se desenvolveram as negociações com a Comissão Europeia sobre o apoio do Estado e os erros cometidos, mas também sobre as ingerências e pressões inaceitáveis do poder político sobre a comissão executiva da TAP".
"As empresas de aviação que criei e os empregos que gerei em vários continentes e que se mantêm com enorme sucesso falam por mim e pela minha reputação. Mas repito: não deixarei que alguns políticos e ex-governantes queiram distrair os portugueses dos graves erros da gestão pública da TAP à custa da minha honra e reputação", remata.