Regresso aos cemitérios impulsiona atividade económica que em 2020 sofreu grande quebra devido à pandemia.
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Viveiros, revendedores e floristas não têm mãos a medir para dar resposta às famílias que, entre hoje e amanhã, enfeitam as campas nos cemitérios para lembrar os entes queridos que partiram, antecipando o dia dos Fiéis Defuntos, que se assinala a 2 de novembro. Numa ronda pelo setor o JN constatou o alívio dos empresários depois do sufoco de 2020 e registou as queixas pelo aumento do preço das flores.
VALENÇA
"O produtor tem de ganhar pouco"
A empresa "Viveiros do Alto Minho", em Fontoura, Valença, voltou este ano a ter o seu "São Miguel" (sinónimo de boa colheita). Segundo Leonel Pereira, sócio-gerente da firma, são as vendas de vasos de crisântemos e arranjos (por encomenda) nesta época que acomodam os cofres e permitem fôlego para o resto do ano. Em 2020 teve de deitar fora milhares de flores que não foram vendidas porque a pandemia impediu a romagem aos cemitérios, mas este ano quase não houve desperdício. "Vamos ter de deitar alguma flor fora, mas é por causa de um problema de infestantes. Estragou alguma, mas se estivesse mais perfeita, até essa saía. Se tivesse controlado as pragas, vendia 100%", afirmou, referindo que "este ano tem corrido muito melhor". "Já se nota que as vendas estão a recuperar e [para os cemitérios] tem-se vendido bastante bem", disse.
Enquanto no ano passado "cerca de metade da produção" foi para o lixo, este ano "80%" foi absorvida pelo mercado. Foram produzidos 12 mil vasos de crisântemos de cores sortidas. O preço por vaso (em média 20 flores) subiu 25 cêntimos. Custa este ano 6,75 euros. "Não consegui subir mais. O produtor tem de ganhar pouco. Quem compra e vende [floristas] quer ganhar sempre o dobro. É um bocado ingrato, mas se não for assim, vão comprar a outro lado", confessa Leonel Pereira, comentando que, embora o negócio tenha retomado, os preços da matéria-prima e dos transportes estão a inflacionar o preço final do produto.
OVAR
"Rosas vermelhas são mais procuradas"
Crisântemos, a flor da época, e rosas do Equador de cor branca são os produtos com mais saída. A rosa vermelha, tradicional no Dia dos Namorados e no Natal, entrou pela primeira vez no top das flores mais procuradas para os Fiéis Defuntos.
A novidade surpreende Manuela Monteiro, funcionária mais antiga e atual responsável da empresa "Flores da Ilda", que fornece "flor de corte" a cerca de 60 floristas da zona de Ovar, São João da Madeira, Santa Maria da Feira, Castelo de Paiva, Arouca, Marco de Canaveses, Penafiel, Esmoriz e Fiães. Também lhe causa surpresa que, apesar de caras como nunca, as flores continuem a ter procura.
"Desde que me lembro, este é o ano em que a flor está mais cara e mesmo assim as pessoas não deixam de comprar. Até estávamos com um bocado de receio, mas não, as encomendas estão a correr bem", comentou, acrescentando que "toda a flor subiu" a partir da pandemia.
Manuela refere como exemplo a rosa do Equador, que "subiu quase cinco euros em molho". Cada molho com 25 rosas está a ser vendido pela empresa ao comerciante por "25,50 euros". "No ano passado, vendíamos o molho a 19,50 euros. Em 2019, abaixo dos 19. A própria verdura, o feto, por exemplo, que é a base dos arranjos, subiu um euro em molho, o que é muito", descreveu, considerando que este ano "o mesmo arranjo para o mesmo valor [de 2020] vai levar muito menos flor".
AVEIRO
"Arranjos já prontos e económicos"
Os arranjos já prontos, no valor de cinco e de dez euros, são a grande aposta da florista Julieta Nóbrega para estes dias em que os falecidos merecem uma atenção especial das famílias, mas muitos não se podem alongar em despesas. Dedicada em exclusivo à profissão há duas décadas, altura em que abriu a loja Júana Florista, em Aveiro, há muito aprendeu que tem de correr "riscos" para conseguir dar resposta aos clientes.
A época dos finados é a "mais forte" em termos de negócio, porque "há mais procura e as flores são mais caras", explica a florista, revelando que o ano passado foi "péssimo", com uma "quebra superior a 50%".
Este ano está otimista, apesar do mau tempo. "Corremos sempre riscos, porque temos de encomendar aos fornecedores com um mês de antecedência, mas a nós os clientes pedem em cima da hora ou entram na loja à procura de arranjos já feitos", conta.
Há quem peça arranjos grandes e quem compre flores ao molho, sobretudo margaridas e crisântemos, mas a maioria dos clientes procuram "arranjos económicos e já prontos", especifica. Por isso, nos últimos dias não tem parado para garantir que tem muita oferta para as famílias escolherem.
Máscaras no Tâmega
A Unidade de Saúde Pública do Agrupamento de Centros de Saúde do Baixo Tâmega propõe a obrigatoriedade do uso de máscara dentro do cemitério e nas suas imediações. Numa circular, lembra a necessidade de comportamentos que salvaguardem a "saúde e segurança da população" e recomenda que não haja contacto físico.
Horários em Lisboa
Os cemitérios de Lisboa estão a funcionar com horário alargado até terça-feira, encerrando portas apenas às 18 horas. A medida, anunciada pela Câmara, visa responder à "grande afluência" prevista para os dias de Todos os Santos e de Fiéis Defuntos.