Máscaras, luvas, batas, braçadeiras de cabeleireiro e copos de plástico são os resíduos descartáveis que mais aumentaram com a covid-19, mas Portugal não está a contabilizar o efeito destes produtos que vão acabar no aterro, pois não devem ser colocados no ecoponto e, por isso, não são reciclados.
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À medida que o Mundo confinava e a poluição diminuía, eram boas as notícias sobre o efeito da covid-19 no ambiente, mas rapidamente a tese caiu por terra e o problema são agora os equipamentos descartáveis produzidos para proteger a população da pandemia.
O JN questionou o Ministério do Ambiente e a Agência Portuguesa do Ambiente, que confirmaram que estes resíduos não são contabilizados por se inserirem nos indiferenciados. O Governo, preocupado com isso, proibiu em maio a importação de resíduos para eliminação provenientes de outros países da União Europeia.
João Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente e da Ação Climática, justificou a preocupação com a necessidade de espaço em aterro para resíduos da covid-19: "Receamos que no pós-covid haja um aumento dos resíduos descartáveis e, se assim for, podemos precisar de uma reserva disponível em aterro".
Nos resíduos urbanos, ao ser determinado que fossem depositadas com os indiferenciados, as máscaras e luvas recebem um código LER (Lista Europeia de Resíduos) generalista, sendo o peso destes adicionado ao lixo comum. Como não foi este o único fator que variou na produção de lixo comparativamente aos últimos anos, as alterações de peso globais não podem ser atribuídas à covid-19.
Assim, embora não se possa quantificar, o número de objetos descartáveis que as famílias utilizam é agora maior. "É evidente que há uma série de aplicações de produtos descartáveis em várias situações", constata Rui Berkemeier, da Associação Zero.
O Grupo EGF, que trata e valoriza resíduos em 60% do território nacional, confirma que "passaram a existir máscaras, luvas e descartáveis em maior quantidade", o que se deve "a uma súbita alteração do padrão de consumo destes materiais".
Ecoponto nunca
As orientações da Direção-Geral de Saúde é que estes resíduos sejam depositados juntamente com o lixo comum e nunca no ecoponto. Com o constante apelo à correta deposição, o número de máscaras nos ecopontos "tem diminuído", revela a EGF, mas ainda assim há quem contorne a orientação.
A Lipor, responsável pelo Serviço Intermunicipalizado de Gestão de Resíduos do Grande Porto, confirma que existem "pontualmente" máscaras e luvas nos resíduos recicláveis provenientes dos ecopontos, numa "quantidade média por dia cerca de 0,5 metros cúbicos, que dará aproximadamente cerca de 200 quilogramas por dia".