Entre os que consideram "pacífica" a proposta de nomeação do general Nunes da Fonseca, que chefia o Exército, para Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, e os que apontam para uma "divisão" gerada pela quebra da rotatividade dos ramos na designação do CEMGFA - agora, seria a vez de um oficial-general da Força Aérea ser designado para o cargo -, esta é (mais) uma decisão da tutela que vem gerar algum desconforto no seio dos militares.
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A rotação entre os ramos, que não é rígida ou regulamentar, constitui, porém, uma espécie de acordo de cavalheiros entre o Governo e as Forças Armadas, para que não haja preferências na hora de nomear um CEMGFA, e nem todos veem com bons olhos a opção do Governo, de fazer tábua-rasa da tradição, deixando para trás o atual chefe da Força Aérea, general Cartaxo Alves. Como o almirante Melo Gomes, antigo Chefe do Estado-Maior da Armada, que, apesar de não querer pronunciar-se sobre a nomeação de Nunes da Fonseca, refere que a decisão da tutela contribui para dividir os militares. "Não vejo senão uma razão divisionista para não seguir a rotatividade", afirma, ao JN.
Posição oposta tem o general Pinto Ramalho, ex-Chefe do Estado Maior do Exército. "Não tenho esse entendimento. Essa é uma regra não escrita, muito ligada à tradição, e que já foi alterada várias vezes. O que acho fundamental é escolher uma pessoa adequada ao cargo que vai desempenhar, e o general Fonseca tem todas as condições para ser um excelente CEMGFA. Não vejo polémica nenhuma", aponta o oficial-general.
Oficial da Força Aérea, também o tenente-coronel António Mota, que preside à Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA), entende que a designação do atual CEME "é pacífica" e assinala que a rotatividade "não é obrigatória, porque não há nada escrito. Já aconteceu [não ser seguida], e não houve problema rigorosamente nenhum".
Para o militar, que não vê sinais de polémica na nomeação, "ninguém passou à frente de ninguém". A escolha é, antes, "um sinal muito forte", por parte do Governo, de que poderá dar um passo atrás na reforma da estrutura superior das Forças Armadas, que foi um cavalo de batalha do anterior ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, e mereceu a oposição dos chefes militares à data, incluindo Nunes da Fonseca.
"É o único que sobra, dos três que se opuseram, e o facto de ser agora designado como CEMGFA tem para nós um significado muito importante, porque, a verificar-se, vamos ter um chefe que se opôs à reforma", sublinha António Mota.
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Melhor aluno da Academia
Nunes da Fonseca é o mais antigo dos chefes dos ramos, encontrando-se a cumprir o segundo mandato. É considerado um oficial de exceção. Além de "uma pessoa tecnicamente muito conceituada", o oficial de engenharia "foi o melhor aluno de todos os tempos da Academia Militar", destaca o presidente da AOFA.
Opositores da reforma afastados
O general Joaquim Borrego não foi reconduzido no Estado-Maior da Força Aérea e o almirante Mendes Calado foi exonerado para que Gouveia e Melo pudesse assumir a chefia da Armada. Só Nunes da Fonseca foi reconduzido. Caso seja nomeado CEMGFA, o Governo terá de designar um novo CEME.