Nova reunião no Infarmed: médicos pedem para se antecipar 2.ª dose nas crianças
Carta aberta da Ordem dos Médicos e do Instituto Superior Técnico para atual fase da pandemia. Governo ouve peritos no Infarmed, esta quarta-feira, para decidir próximos passos.
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Com um excesso de transmissibilidade e incertezas ainda quanto à gravidade da infeção por ómicron, o grupo de trabalho da Ordem dos Médicos com o Instituto Superior Técnico (IST) propõe uma série de medidas para enfrentar a atual vaga. Com foco na vacinação e na revisão das regras de testagem e isolamento. Com previsão de pico até 100 mil casos entre 20 e 24 de janeiro. Esta quarta-feira, o Governo volta a ouvir os peritos no Infarmed para depois decidir os próximos passos em Conselho de Ministros.
Entre as medidas preconizadas, a antecipação da segunda toma nas crianças dos 5-11 anos das atuais 6-8 semanas para um intervalo de 3-4 semanas. Com o atual calendário, explica ao JN Filipe Froes, um dos subscritores da carta aberta, as crianças "terão esquema vacinal completo em finais de março, início de abril, para uma ameaça que já não existe, a maior proteção interessa para o momento atual". Sobretudo numa altura em que "precisamos de normalizar o regresso às aulas", garantida que está a reabertura das escolas na próxima semana.
Ainda em termos de vacinação, defendem prioridade ao reforço dos mais vulneráveis (como imunodeprimidos ou obesos), dos maiores de 65 anos - "estima-se que cerca de 15% não tenham recebido" -, seguindo-se os +50. Abaixo desta faixa etária, excluem as "pessoas com duas tomas de vacina RNAm com a 2.ª administração há menos de quatro meses", com o reforço seguindo "critérios de exposição profissional e idade".
Com a vacinação a andar de mãos dadas com as regras de isolamento, cuja redução para sete dias a Direção-Geral da Saúde prometeu para esta semana. Na carta aberta, inicialmente publicada pelo "Expresso", entretanto alvo de um ataque informático, os especialistas defendem sete dias para os assintomáticos sem necessidade de teste final. Já nos contactos, entendem que os casos com esquema completo+reforço há mais de sete dias ou duas tomas de RNAm há menos de quatro meses devem ser considerados de baixo risco. Sendo que, nestas duas situações, preconizam a dispensa de teste "para aceder a ajuntamentos ou espetáculos". Nos restantes contactos de alto risco, isolamento por sete dias com teste PCR ao último dia.
Teletrabalho e certificado
As recomendações assentam em projeções do IST de "pico da onda atual entre 20 e 24 de janeiro, com um número de casos diários que pode atingir os 100 mil e cerca de 2200 internamentos dos quais até 225 em Intensivos", num máximo de 30 óbitos/dia. Pelo que "teletrabalho sempre que possível", apresentação do certificado digital na restauração e hotelaria e testes para aceder a grandes eventos (salvo as duas exceções) deverão manter-se. Acompanhando de perto o Indicador de Avaliação da Pandemia criado pelo grupo.
Melhorar a comunicação
Bernardo Gomes, do Instituto Superior de Saúde Pública da Universidade do Porto, por sua vez, volta a pôr a tónica na comunicação. Admitindo "a incapacidade de a sociedade em geral, durante uma menor pressão hospitalar, entender e acatar mais medidas além do que foi feito; não vai correr bem".
Do lado das medidas, o médico de saúde pública não vê vantagens na apresentação recorrente do certificado, "tirando nos grandes eventos"; e recomendaria a manutenção do teletrabalho, além das várias medidas não-farmacológicas em vigor, como o uso da máscara. Do lado das normas, avisa que, "com as mesmas regras de isolamento, rapidamente muitas turmas irão para casa, pelo que têm de ser revistas para minimizar o papel do isolamento, com destaque para as escolas".