Os médicos que prescrevem medicamentos com canabidiol (CBD), uma substância da planta canábis usada para tratar epilepsia, entre outras doenças, tem agora uma nova ferramenta de apoio à decisão terapêutica. São umas análises que permitem quantificar os níveis de CBD no sangue e ajustar as dosagens, evitando o risco de toxicidade para o doente.
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A técnica foi desenvolvida no âmbito de um projeto de doutoramento da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra e do grupo de investigação CIBIT e será apresentada este sábado, em Coimbra, na segunda conferência nacional de canábis medicinal, organizada pelo Observatório Português da Canábis Medicinal (OPCM) e pela Faculdade de Medicina de Coimbra.
O evento dirigido a médicos, enfermeiros, farmacêuticos e estudantes conta com a presença das ordens dos Médicos e dos Farmacêuticos, do Infarmed e de vários investigadores nacionais e estrangeiros que vão apresentar estudos sobre a canábis medicinal.
As análises clínicas para quantificar os níveis de determinada substância no sangue são comuns para medicamentos como os antibióticos, antiepilépticos e antipsicóticos, mas em Portugal é a primeira vez que se fazem para detetar os níveis de CBD.
O projeto começou com uma investigação semelhante para os antiepilépticos, explicou, ao JN, Ana Fortuna, professora auxiliar da Faculdade de Farmácia e investigadora do CIBIT. "Já tínhamos uma colaboração com neurologistas e fomos desafiados a analisar amostras com CBD", adiantou.
O objetivo da técnica é simples e importante para doentes e médicos. "Podemos identificar o excesso ou o défice de CBD" e perceber se é preciso ajustar as dosagens, referiu Ana Fortuna. Até aqui as amostras foram analisadas no âmbito do projeto de investigação, mas a ideia é "poder auxiliar todos os doentes". Assim, os pedidos de análises devem ser efetuados por médicos através de contacto para o Observatório de Interações Planta-Medicamento da Universidade de Coimbra.
Muitas crianças a tomar
Para a presidente do OPCM, esta técnica traz mais segurança aos doentes. Carla Dias nota que "há muitas crianças a tomar o epidiolex, dispensado em farmácia hospitalar, e é muito importante que o médico consiga aferir a dose ideal" para cada doente.
Por outro lado, refere, "há inúmeras mães que dão CBD às crianças com epilepsia" sem prescrição médica e seria útil que "fizessem a análise para perceberem se estão a dar a mais ou a menos".
Recorde-se que, em Portugal, apesar do aumento de empresas que cultivam canábis para fins medicinais, há apenas um produto à base de canábis à venda nas farmácias, a flor seca com 18% de THC (tetrahidrocanabinol) da Tilray. Porém, esta solução não está indicada para doentes com epilepsia, pelo que há muitos doentes a recorrerem à Internet para adquirirem produtos com CBD, que não estão disponíveis no mercado português.
Nove produtos
O Infarmed está a avaliar nove pedidos de autorização de colocação no mercado para produtos à base de canábis. São sete soluções orais e duas flores secas com diferentes teores de CBD e THC, segundo dados do Observatório Português da Canábis Medicinal obtidos junto do regulador.
21 empresas a cultivar
Há um total de 21 empresas com licença do Infarmed para cultivar canábis em Portugal, a maioria para exportação.