Já está a funcionar um novo site, <a href="https://omeuvoto.com/" target="_blank">www.omeuvoto.com</a>, onde qualquer cidadão pode saber se o seu voto elegeu alguém. Para tal, só tem de responder a três perguntas no portal criado pelo politólogo Luís Humberto Teixeira e pelo programador Carlos Afonso. "Em média, cerca de meio milhão de votos válidos não são convertidos em mandatos a cada eleição legislativa. A existência de muitos círculos de pequena dimensão é uma das principais responsáveis pela situação", denuncia-se na página principal.
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"Que efeito teve o meu voto" é a questão a que o portal responde desde o fecho oficial das urnas, este domingo. Deste modo, o eleitor poderá saber se o seu voto deu origem a um mandato. Segundo disse ao JN o investigador Luís Humberto Teixeira, "visa descomplicar a leitura dos mapas oficiais de resultados, dando aos cidadãos uma resposta simples quanto ao efeito do seu voto". Ou seja: "elegeu um deputado" ou "não elegeu um deputado".
Impacto do voto nas 16 legislativas
O site possibilitará também que os eleitores fiquem a conhecer o impacto do seu voto nas 16 eleições legislativas levadas a cabo em Portugal entre 1975 e 2019.
No caso das legislativas anteriores, o efeito do voto é aferido tendo por base os mapas oficiais publicados em Diário da República. No das presentes eleições, será utilizado o escrutínio provisório divulgado pela Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna.
Votos perdidos em 2019
"Se é verdade que em praticamente todas as eleições há votos válidos em partidos que não são convertidos em mandatos", também o é que "não precisavam de ser tantos", diz o cientista político formado no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Recorda, aliás, que, em 2019, houve praticamente 720 mil votos válidos que não elegeram ninguém, com claro prejuízo para os eleitores dos partidos médios, emergentes e extraparlamentares.
Círculos menores penalizados
"Estão em causa quase 15% dos votantes, ou seja, um em cada sete", destaca o politólogo ao JN, notando que, em termos de percentagem, são sobretudo os eleitores dos círculos de menor dimensão aqueles que acabam por não eleger ninguém com o seu voto.
"Em 2019, Portalegre foi um caso paradigmático. Como o PS conquistou os dois mandatos deste distrito do Alto Alentejo, os votos em todas as outras forças não tiveram efeito prático", recorda ainda Luís Humberto Teixeira.
"Falamos de 53,4% dos votos válidos naquele círculo. Ou seja, mais de metade daquele eleitorado foi ignorado", acrescentou o investigador, que estuda e divulga questões relacionadas com o sistema eleitoral há quase duas décadas, incluindo os chamados eleitores-fantasma.
"Levar cidadãos a agir"
"Ao longo dos anos, apercebi-me de que falar apenas em percentagens e termos científicos constituía uma barreira à compreensão deste fenómeno. Daí a abordagem simples, direta e pessoal usada em omeuvoto.com", explica Luís Humberto Teixeira.
Em jeito de conclusão, refere que esta iniciativa tem "um duplo objetivo". Por um lado, "aumentar a literacia eleitoral dos portugueses e, ao mesmo tempo, levá-los a agir, caso considerem que não é democraticamente admissível que, em média, a cada eleição haja cerca de meio milhão de votos válidos que não elegem ninguém".
Questões resumidas no site:
Votos não convertidos: nas legislativas de 2019, 719 929 votos não foram convertidos em mandatos. CDS-PP, CDU, BE e PAN contribuíram com quase 400 mil votos para esse total;
Eleitores sem representantes: uma análise das eleições entre 1975 e 2019 revela uma média de 8,67% de votos válidos não convertidos em mandatos;
Soluções para o problema: Reduzir o número de círculos eleitorais e/ou criar um círculo de compensação mitigaria a situação. Tem faltado vontade política.