Em 2023 ocorreram, em média, 25 incêndios rurais nos dias de maior perigo. É lançada esta quarta-feira a campanha “Portugal Chama. Por Si. Por Todos”, em curso até 2026, para continuar a fazer com que o país seja menos fustigado pelas chamas, em especial durante os meses de verão.
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“Há uma média nacional, inscrita no Plano Nacional de Gestão Integrada dos Fogos Rurais, para reduzir em 80% o número de incêndios nos dias críticos. Já conseguimos reduzir em 58%, ou seja, no ano passado, nos piores dias do verão ocorreram em média 25 incêndios, mas a meta é só termos 12 em 2030. Portanto, há este esforço a fazer", salientou em declarações, ao JN, Tiago Oliveira, presidente da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF). Segundo o responsável, esta média nos dias de meteorologia mais difíceis, entre 2010 e 2019, era de 76 incêndios.
Depois da campanha “Portugal Chama” em curso entre 2019 e 2023, esta manhã a AGIF lançou uma nova até 2026 como missão de continuar a diminuir o número de incêndios florestais em Portugal, destacando que “a prevenção começa” em cada um dos portugueses.
Em seis anos, conseguiu-se reduzir o número de ignições para mais de metade devido à estratégia adotada: passou-se de uma média, antes de 2019, de 20 mil por ano para 7 mil no ano passado, a maioria intencionais e durante os meses de verão, com maior predominância na região Norte e do Algarve. Recorde-se que o ano passado foi o segundo ano com o valor mais baixo de incêndios na última década, com um terço da área ardida, mas também o primeiro, desde que há registo, sem vítimas mortais em incêndios rurais, queimas e queimadas.
Durante a cerimónia de apresentação da campanha, Tiago Oliveira revelou que foram ainda reduzidos em 12% os incêndios acidentais que acontecem em dias muito secos, como os relacionados com o uso de máquinas agrícolas. O ano passado registaram-se 420 ignições deste tipo.
Contacto próximo com a população
Tiago Oliveira espera que a nova campanha de prevenção continue o rumo que tem vindo a ser alcançado para diminuir o número de fogos por ano, mas também a média dos que ocorrem nos piores dias do verão. Mas o objetivo “exige uma ligação de maior proximidade, coordenação, planeamento e organização das comunidades locais”.
“É preciso chegar àquela idosa isolada ou àquele senhor que tem problemas de alcoolismo. Depois há pessoas que nos procuram, como turistas que não estão habituados ao uso do fogo, que fazem uma fogueira ou um churrasco e largam as cinzas porque no seu país são usadas como uma forma de promover o enriquecimento da terra”, exemplificou.
A ideia é que a mensagem continue a chegar às pessoas porta à porta no terreno com o apoio das autoridades e do poder local. ”A GNR tem um papel muito importante, tal como as freguesias e os municípios também, porque têm as ferramentas para aplicar todos os meios de sensibilização pensados chegar à escala local. Nós criamos a estratégia, mas o portfólio de soluções é aplicado localmente, onde prevalecem questões relacionadas à exclusão social, isolamento e álcool”.
A nova campanha estará nas ruas em "outdoors", mas também em "spots" publicitários na rádio, jornais e televisões com mensagens de sensibilização com vista à limpeza dos terrenos, ao não uso de queimas e queimadas e de foguetes em dias de perigo para chegar a toda a sociedade civil.
Mais de 25 mil autos de contraordenação levantados nos últimos seis anos
Já o comandante do Comando Operacional da GNR, Manuel Rocha, revelou que no âmbito da "Operação Floresta Segura", desde 2019, aquela força de segurança já realizou mais de 35 mil ações de sensibilização que alcançaram mais de 428 mil cidadãos.
Quanto à segunda linha de ação da GNR, nos últimos seis anos, foram sinalizados mais de 95 mil proprietários devido à falta de limpeza dos terrenos. Destas ações resultaram mais de 25 mil autos de contraordenação. No mesmo período foram ainda detidos 594 cidadãos, bem como 3 882 identificados. No total, a GNR contabilizou 25 694 crimes e 42 mil incêndios foram alvo de investigação.
Quanto à mobilização de 41 aparelhos aéreos, dos quais 31 helicópteros, para o combate às chamas este ano - avançada na terça-feira pela Força Aérea ao jornal “Público”, Tiago Oliveira manifestou esperança de que os contratos resultem, mas alertou que “ter mais meios não é a solução para o problema”. “Os meios são suficientes e capazes. O que temos de ter é a capacidade de os coordenar de forma diferente”, advertiu.
Já Duarte da Costa, presidente da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), salientou que 2023 é um ano exemplo "de um trabalho bem feito", mas que não devemos deixar de estar alerta, lembrando que cerca de 10% dos incêndios que ocorreram não foram extintos no ataque inicial.
Sobre o compromisso da prevenção, o programa “Aldeia Segura” - que surgiu em outubro de 2017, no rescaldo do grande incêndio em Pedrógão Grande - já envolveu mais de 32 mil cidadãos em cerca de 100 ações locais de sensibilização para a promoção de medidas de autoproteção das pessoas e do edificado.
Na apresentação da nova campanha "Portugal Chama. Por Si. Por Todos. 2024-2026", que decorreu esta manhã em Lisboa, estiveram presentes representantes ANEPC, GNR, PJ e do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), bem como os secretários de Estado da Justiça, da Proteção Civil e das Infraestruturas. O ministro da Educação, João Costa, participou num painel direcionado ao papel das escolas e da comunidade escolar na prevenção dos incêndios.