O investimento na nutrição e o suporte familiar podem aumentar a esperança média de vida de pessoas com demência grave, revela um estudo de investigadores da Egas Moniz School of Health & Science e do Hospital Garcia de Orta.
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A equipa, liderada por Jorge Fonseca, professor na Egas Moniz School of Health & Science, e Diogo Sousa-Catita, nutricionista, estudou 100 doentes com demência grave que integraram um programa de suporte nutricional especializado através de gastronomia percutânea endoscópica – introdução de uma sonda na cavidade gástrica do estômago – que durou entre quatro a cinco anos.
Para integrar este programa os doentes precisavam de ter uma relação afetiva e estável com a família, algo que o estudo justifica: “Apesar dos critérios de demência avançada, alguns doentes apresentam uma forte relação familiar que justifica, em termos éticos, o prolongamento da vida, provavelmente proporcionando maior conforto e melhoria do estado nutricional”.
Segundo o comunicado de imprensa, o grupo apresentava baixo peso e parâmetros nutricionais fracos, mas muitos conseguiram recuperar o peso e a sobrevivência média do grupo aumentou. “A sobrevivência média do grupo foi de 28 meses, quase dois anos e meio - muito acima dos dois ou três meses divulgados em estudos prévios”, esclarece o comunicado.
“Vários doentes foram acompanhados durante quatro a cinco anos neste processo, o que revela a importância deste suporte familiar e de cuidadores e que é possível aumentar a esperança média de vida destes doentes. Geralmente, a visão clínica tradicional considera que as pessoas com demência grave ou avançada têm uma esperança de sobrevivência muito reduzida. Contudo esta investigação mostra que é possível contrariar essa tendência e melhorar estes prognósticos”, explica Jorge Fonseca no documento.
Segundo o estudo intitulado “Nutrition and Outcome of 100 Endoscopic Gastrostomy-Fed Citizens with Severe Dementia”, dos 100 pacientes, 39 eram do sexo masculino e 61 do feminino entre os 51 e os 100 anos.
Nos primeiros três meses faleceram 19 pacientes, 14 do sexo masculino e 5 do feminino. Ser do sexo feminino, ter uma recuperação do índice de massa corporal até aos 3 meses no programa e níveis mais elevados de hemoglobina foram fatores associados a um risco reduzido de morte e aumento do tempo de sobrevivência.
De acordo com o estudo, no grupo do sexo feminino a média de sobrevivência foi “significativamente maior do que no grupo masculino”. No total a média de sobrevivência foi de 27,9 meses, nos pacientes do sexo masculino foi de 17,2 meses e no feminino de 34,2.
Este estudo foi realizado por Diogo Sousa-Catita, Jorge Fonseca, Paulo Mascarenhas, Cátia Oliveira, Miguel Grunho e Carla Adriana Santos. Teve o objetivo de “alertar a comunidade científica de que é possível contribuir para uma melhor qualidade de vida destes doentes e que o recurso a tratamentos alternativos pode ter um impacto significativo na vida dos mesmos”, esclarece o comunicado.