À mesa houve cherne, frutos do mar, mimos selecionados pelo chef António Loureiro e uma sobremesa de citrinos e gelado de pistáchio. Na ementa não entrou, nem em piadas ou meias palavras, a crise que poucas horas antes tinha colocado o país em sobressalto. Em périplo pelo distrito de Braga, o ministro do Ambiente e da Ação Climática não largou o trabalho nem sequer à hora de almoço e fez questão de conhecer aquele que acaba de ser certificado como o primeiro restaurante europeu "zero waste business".
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Rodeado de dois secretários de Estado, Duarte Cordeiro ouviu de Isabel Loureiro, que com o marido detém "A Cozinha", em pleno centro histórico de Guimarães, as explicações sobre os segredos para conseguir o selo que atesta o desperdício zero no restaurante. A sustentabilidade é um ingrediente que orienta o projeto desde que o plano de negócios foi traçado, assegura Isabel, e além do mapeamento e controlo total de ingredientes e desperdícios a chave está na escolha de produtores locais, muito planeamento e grande criatividade na cozinha. Uma criatividade e exclusividade que é traduzida no facto de ser um dos poucos restaurantes fora de Porto, Lisboa e Algarve com uma estrela Michelin.
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Atento às explicações, o ministro do Ambiente assegurou estar disponível para estudar propostas que incentivem a sustentabilidade na restauração, aguardando propostas da associação Zero nesse sentido. Igualmente discutida foi a necessidade de rever regras de armazenamento e de segurança alimentar que dificultam a utilização de produtos a granel.
Terminada a refeição pedagógica, em que Duarte Cordeiro confessou ter começado a fazer compostagem em casa e ouviu do secretário de Estado Jorge Delgado algumas indicações sobre compostores, a equipa governativa dividiu-se para cumprir a preenchida agenda com que o Governo tentou atirar para trás das costas o tema da permanência de João Galamba. Sempre com sorrisos e alusões ao trabalho em curso, em clima de normalidade - ou não fosse o próprio primeiro-ministro a assegurar que a vida política "é mais normal" do que os jornalistas pensam.
Já fora da mesa, o ministro do Ambiente não fugiu um milímetro ao guião necessariamente cuidado para lidar com temas incómodos. "Depois do sr. primeiro-ministro falar, não faz sentido mais nenhum membro do Governo falar. Não farei nenhum comentário relativamente ao que sucedeu e o sr. primeiro-ministro falou pelo Governo."