Catarina Martins, cabeça de lista do BE às europeias, criticou disparidade entre salários mínimos e destacou importância de ser eleito segundo candidato ao Parlamento Europeu.
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No décimo dia de campanha, o Bloco de Esquerda foi ao supermercado para mostrar a disparidade no poder de compra entre países europeus. Com um Salário Mínimo Nacional (SMN) de 820 euros, o carrinho dos portugueses ficou mais vazio, quando comparado com franceses e espanhóis. Numa encenação à porta de um espaço comercial, no Porto, a candidatura de Catarina Martins às europeias muniu-se de três carrinhos, com supostos clientes trajados a rigor, onde não faltou a boina e a baguete debaixo do braço ou um xaile pelos ombros com as cores da bandeira lusa. A cabeça de lista do BE, que apelou à eleição do segundo eurodeputado, defendeu que “Portugal não pode continuar a ser o país dos salários baixos e das contas altas”.
Olhando para os bens essenciais comprados - como leite, ovos, atum, grão-de-bico e papel higiénico - Catarina Martins destacou que os portugueses não se podem resignar à ideia de que têm os salários mais baixos do que a generalidade dos europeus, mas depois vão ao supermercado e pagam o mesmo pela maioria dos produtos. E também pelas casas, “ou até mais”.
Nos carrinhos, estavam assinalados os salários mínimos praticados nos três países: França com 1398 euros, Espanha com 1134 e Portugal com 820.
Eleger Gusmão é “importante”
A ex-líder do BE prometeu “puxar pelos salários e lutar contra a especulação de preços da habitação”. “Muitas vezes as pessoas acham que estas coisas não são política europeia”, prosseguiu, insistindo que está “a lutar pelas condições de vida muito concretas no nosso país”.
“Quem sente que, em Portugal, o poder de compra tem diminuído muito nos últimos anos, saiba que no Parlamento Europeu (PE) também se pode lutar por melhores condições de vida e é isso que faremos”, assegurou, notando que, “da alimentação aos medicamentos, os preços passam também por políticas decididas no PE”.
Questionada sobre se a meta é manter dois eleitos, após Francisco Louçã ter dito que o BE é o único partido que à Esquerda pode eleger mais do que um eurodeputado, Catarina Martins assumiu esta ambição. “Nós teremos os votos que merecermos. As campanhas são assim mesmo. Agora, se me perguntam se o José Gusmão é muito necessário no PE, claro que sim. Tem feito um trabalho extraordinário”, respondeu, acrescentando que a sua eleição domingo é “muito importante”.
A candidata falou depois da sua intenção de propor no PE a condenação do Governo alemão por fornecer armas a Israel, tendo repetido o desafio a PS, IL e Livre para que aprovem esta “sanção”.
“Devia haver uma união das forças políticas que se levantam contra o genocídio, que acreditam nos direitos humanos, o direito internacional, contra o facto do Governo alemão estar a enviar armas para Netanyahu”, declarou. “O apelo que faço a Marta Temido, Francisco Paupério e João Cotrim de Figueiredo é que façam ouvir a sua voz também, junto das suas famílias políticas, para travar o envio de armas europeias para o genocídio que está a acontecer em Gaza”, defendeu.
Mais do que espetador da UE
Por sua vez, “Portugal não pode ser um espetador da União Europeia”. E “os partidos portugueses também não são espetadores das suas famílias políticas”.
Tempo houve ainda para comentar as declarações de Cotrim Figueiredo, candidato da IL que acusou Louçã de ser “especialista em política suja” e disse que “quem escolhe seguir Trotsky não tem autoridade para estar a criticar, seja quem for, por falta de respeito por direitos humanos”. “É, sobretudo, bastante vazia e bastante deselegante”, comentou Catarina, questionada sobre aquela afirmação.
Já instada sobre se a Esquerda conseguirá capitalizar os avanços em matéria de IRS no Parlamento, lamentou que tenha ficado de fora “uma medida muito importante”. “O BE tinha apresentado a possibilidade de dedução dos juros, do crédito à habitação, para as pessoas que começaram a comprar casa depois de 2011”. “É incompreensível que se tenham unido para chumbar essa medida, num momento em que os juros ainda estão altos”, referiu.
No final, foi abordada por Elson Neves, que contou ter nascido em Portugal há 31 anos mas não ter ainda a nacionalidade portuguesa. “Fui pedir o título de residência na Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) e não me dão. Ligo para eles constantemente e não me dão resposta”, referiu. Os pais são de Cabo Verde.