"O chefe disse que não queria ninguém com máscara", diz tripulante português no navio
O segundo tripulante nazareno do navio em quarentena no Japão confirma que a equipa só recebeu indicações para usar máscaras "três ou quatro dias depois" dos passageiros.
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Tripulante do navio Diamond Princess há seis anos, Hélder Vigia da Silva confirmou ao JN que "quando os passageiros entraram de quarentena, o chefe disse que não queria ninguém com máscara, enquanto os médicos não mandassem". Natural da Nazaré, adiantou ainda que só "três ou quatro dias depois" é que deram indicações contrárias.
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Hélder Silva, de 49 anos, explicou que a primeira refeição que Adriano Maranhão, o primeiro português infetado com o coronavírus, fez, desde que se encontra isolado na cabina, foi-lhe entregue por outro tripulante de nacionalidade portuguesa. "Penso que foi um lapso da firma não lhe terem levado comida. Se calhar, não sabiam." Desde então, a empresa passou a deixar-lhe um tabuleiro com comida à porta.
"Estamos preocupados, porque somos uma família. Somos quatro portugueses [tripulantes] a bordo, se não nos importarmos uns com os outros, com quem é que nos vamos preocupar?", questiona Hélder Silva, que trabalha na área da manutenção. Desde que Adriano Maranhão ficou confinado à cabina onde dorme, garante que têm falado com ele, por telefone e através do Facebook, com regularidade.
À semelhança de Adriano Maranhão, o segundo tripulante da Nazaré também foi submetido a um teste à saliva, no mesmo dia, mas ainda não sabe os resultados. "Não nos foi comunicado nada", afirma. "Somos muitos, mas, ao olhar para Deus, penso que se estivéssemos infetados já saberíamos", acredita. Apesar de não ter qualquer sintoma, Hélder Silva diz que, além de ser nervoso, sente "stresse e cansaço". "Gostava que isto se resolvesse o mais rapidamente possível."
Ao desempenhar diversas tarefas no navio, que se encontra ancorado ao largo de Yokohama, no Japão, Hélder Silva diz que não tinha grandes contactos com os passageiros a bordo e que, durante as refeições, convivia com os outros três portugueses. Quanto a Adriano Maranhão, revela que "estava sempre com mil e um cuidados". "Tenham atenção a isto, tenham atenção àquilo", recomendava, e acabou por ser o primeiro infetado pelo vírus.