A importância da exploração do espaço para a soberania portuguesa juntou, esta segunda-feira, no CEiiA, em Matosinhos, o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros Paulo Portas e o chefe do Estado-Maior da Força Aérea, general Cartaxo Alves. Como pano de fundo, a liderança portuguesa da Constelação do Atlântico (CdA).
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A estrela mais visível, por estes dias, no firmamento de negócios do CEiiA aponta bem alto, com a liderança portuguesa da Constelação do Atlântico, anunciada na semana passada em Bruxelas, na Bélgica. O programa, que visa a criação de uma rede de microssatélites de observação da Terra, assenta numa parceria internacional, com Espanha e outros países, encabeçada por Portugal.
“Conheço o CEiiA há muitos anos. Tem apostado sucessivamente só em setores de altíssimo valor acrescentado", observou Paulo Portas, num encontro após uma visita às instalações do Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto, em Matosinhos. "Tem uma capacidade de desenvolvimento muito grande em várias áreas, nomeadamente na aeronáutica”, observou o antigo ministro.
Com a criação da GEOSAT, pelo CEiiA com a OMNIDEA, em 2021, Portugal entrou no grupo dos 10 países no mundo com satélites de muito alta resolução, afirmando-se como “Fly Nation”, país com ativos no Espaço, com acesso direto ao mercado e meios para assegurar a sua soberania a partir do alto. "É verdadeiramente surpreendente para um país tão pequeno. Revolucionou a indústria espacial nos últimos anos, tendo passado de uma indústria pequena para uma indústria com grande capacidade”, disse Portas.
A CdA foi selada na Cimeira Ibérica de 2022, dando sequência à vontade do Governo, revelada em 2019 pelo então ministro da Ciência e Tecnologia, Manuel Heitor, de construir 12 a 16 satélites de observação portugueses. Em novembro de 2023, a ainda ministra do setor, Elvira Fortunato, previa "o lançamento e operacionalização de 30 satélites em várias constelações para novos serviços de monitorização do território, quer seja terrestre ou marítimo". Declarações proferidas durante a cerimónia a assinalar os 30 anos do primeiro satélite português a ser lançado no Espaço.
"Relevância estratégica" na área da Defesa
Três décadas depois, e após anos a fio de atividade aeroespacial confinada ao desenvolvimento de “software”, componentes e algumas atividades científicas, foi dado um passo, em Matosinhos, que pode significar um grande salto para Portugal - a Constelação do Atlântico. Nascida de uma parceria CEiiA/GEOSAT e a Força Aérea portuguesa, foi materializada na criação do Centro de Tecnologia e Inovação Aeroespacial (CTI Aeroespacial), que permite a Portugal "uma relevância estratégica no domínio da Defesa e Segurança", anunciou o CEiiA em comunicado.
"O CTI está focado no desenvolvimento de novo conhecimento, tecnologias e aplicações associadas a estratégias de duplo-uso (nos domínios da Aeronáutica e Espaço) no contexto da ZEE (Zona Económica Exclusiva) e irá liderar no contexto internacional o papel de Portugal na Constelação do Atlântico", acrescentou o CEiiA.
Inicialmente desenhada para a exploração científica do Atlântico, a partir de satélites de média resolução distribuídos entre Portugal e Espanha, a CdA ganhou com a GEOSAT uma nova componente de muito-alta resolução.
"Em complementaridade com outros parceiros internacionais, como Espanha e eventualmente o Reino Unido, estes satélites poderão potenciar uma observação da Terra nas suas várias vertentes para que se garanta uma maior monitorização quer seja da agricultura, da economia, do clima e das noções de fronteira e de vigilância marítima e de capacidade de deteção", disse o chefe do Estado-Maior da Força Aérea, General Cartaxo Alves, também presente na sessão em Matosinhos.
O projeto disponibiliza imagens e dados frequentes a partir de satélites, para aplicações de Sustentabilidade, Segurança e Emergências, essenciais para o reforço da soberania nacional no espaço e no oceano. “A componente de muito-alta resolução viabiliza a gestão de emergências e segurança a partir da Constelação Atlântica, e é um ativo crítico para expandir e assegurar a soberania nacional sobre as fronteiras do território português”, argumenta Vilhena da Cunha, CEO da GEOSAT.
A fase piloto da Constelação Atlântica está em curso, a partir das capacidades da GEOSAT e do lançamento de satélites demonstradores como é o caso do Aeros. “Desenvolvido pelo CEiiA em colaboração com a Thales, será lançado com a SpaceX ainda neste trimestre. Estes satélites vão permitir acelerar o desenvolvimento de vários subsistemas da Constelação”, lê-se, ainda, no comunicado.
“A GEOSAT lançou neste âmbito o Atlantic Data hub, com 10 anos de arquivo de imagens de satélite das regiões atlânticas a 40 e 75 cm de resolução, que é atualizado diariamente”, acrescenta o CEiiA. Estas imagens estão já a ser disponibilizadas através do Atlantic International Research (AIR) Centre, baseado em Portugal, para desenvolvimento de aplicações para estudo e mitigação do impacto das alterações climáticas, entre outras.
Para os futuros satélites da Constelação Atlântica, o CEiiA tem vindo a estabelecer parcerias com empresas de tecnologia espacial, entre elas a OHB, uma das maiores empresas europeias do setor, acrescenta o comunicado.