A primeira referência ao ciclone que no dia 14 de janeiro de 1941 matou mais de 100 pessoas em todo o país e deixou ao rasto de destruição só surge no "Jornal de Notícias" na edição do dia 16 de fevereiro. O relato dos danos teve direito a duas páginas e a tempestade tanto foi chamada de "formidável ciclone" como, na página seguinte, de "violento vendaval".
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Este foi um dos temporais mais violentos de que há registo em Portugal. O país foi assolado por uma tempestade de vento que interrompeu as comunicações, deixou estragos à sua passagem e gerou mais de uma centena de feridos e de mortes.
Sem telefone, quase sem comboios e com casas destruídas, o JN notícia também que "o monumento ao Marechal Gomes da Costa ficou totalmente destruído" e que "quatro veleiros encalharam em Massarelos", tendo um deles ficado irrecuperável.
"O formidável ciclone provocou estragos enormes, bloqueou comboios, derrubou prédios e causou muitas vítimas", noticiava o JN que, em 1941 teve uma atualização de preço e passou a custar 40 centavos.
São raras as terras do continente que a fúria do vendaval não atingiu profundamente
Muitas das vítimas mortais e os feridos, cujo número nunca terá sido contabilizado, terão resultado de afogamentos devido a inundações nas áreas ribeirinhas. Também se assinalaram vários cortes nos caminhos de ferro motivados por acidentes, alguns dos quais com vítimas mortais como, por exemplo, em Lamarosa/Coimbra onde o choque de comboios fez duas vítimas mortais e entre Travagem e Leandro/Minho, onde a queda de uma árvore na linha terá causado três mortos. A rede viária e elétrica foi, também, afetada sobretudo devido à queda de árvores.
"São raras as terras do continente que a fúria do vendaval não atingiu profundamente", lia-se na reportagem publicada no JN. Na região de Aveiro, "até o sal das salinas desapareceu com o vento" e morreram três rapazes, uma mulher e uma criança. Foram ainda encontrados os cadáveres de três tripulantes de moliceiros dentro de dois barcos que se afundaram.
Portugal, do Algarve ao Minho, sofreu dolorosos efeitos duma calamidade como não há memória
O socorro foi coordenado pelo Subsecretariado de Estado da Assistência Social, que também presidiu à Comissão Nacional de Socorros às Vítimas do Ciclone. Esta comissão foi formada por iniciativa governamental, tendo como objetivo acudir às necessidades das pequenas economias familiares arruinadas pela catástrofe, nomeadamente no que dizia respeito à entrega de alimentos e ao restauro das casas danificadas. Para recolher fundos, foi criada pelo governo uma campanha nacional que, através da Emissora Nacional e de alguns jornais recolheu bens e dinheiro para as famílias.
"Portugal, do Algarve ao Minho, sofreu dolorosos efeitos duma calamidade como não há memória", escreveu o Jornal de Notícias