"Rutura iminente do BPN determina nacionalização", lia-se no título da notícia que foi manchete do JN em 3 de novembro de 2008. Reportava-se o "anúncio surpresa" que o primeiro Governo de José Sócrates tinha feito na véspera, um domingo, depois de uma reunião extraordinária do Conselho de Ministros.
Corpo do artigo
O breve lead da notícia sintetizava as razões invocadas, em conferência de imprensa, pelo então ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos, que surgira acompanhado do governador do Banco de Portugal (BdP), Vítor Constâncio: "A "iminente rutura de pagamentos", com perda acumulada de 700 milhões de euros, e a suspeita de ilegalidades em investigação levaram o Governo a optar pela nacionalização do Banco Português de Negócios (BPN)".
"Objetivo: "tranquilizar" os clientes do banco, garantindo-lhes que os depósitos estão agora seguros, e de caminho todos os portugueses", asseverou-se. O BPN foi apresentado como "um caso muito particular". Nada a ver com a crise dos mercados financeiros, tudo a ver com factos de "legalidade duvidosa". Um caso de justiça, portanto, que daria origem a um ror de processos criminais que envolveu antigos membros dos governos de Cavaco Silva, com José de Oliveira Costa à cabeça. O antigo secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, que se tornaria presidente do BPN, seria condenado numa pena única de prisão de 15 anos, mas morreu, em 2020, antes de a cumprir.
A notícia da nacionalização indiciava o pesadelo: falta de provisões; operações de crédito em praças offshore; o facto de a Sociedade Lusa de Negócios, dona do BPN, ser também titular do Banco Insular (Cabo Verde). "Facto que o BdP desconhecia", assinalava o JN, aludindo a um "vasto conjunto" de operações financeiras sem registo contabilístico.
A fotografia principal da página apresentava o ministro das Finanças de semblante carregado e o governador do BdP num gesto explicativo, de mão aberta, que duraria anos: não, não fora por negligência que o regulador bancário não detetara mais cedo "operações clandestinas no valor de centenas de milhões de euros". Teixeira dos Santos quantificou as perdas acumuladas: 700 milhões de euros, 360 dos quais diziam respeito ao tal balcão clandestino em Cabo Verde.
Mas era, soube-se mais tarde, a ponta do iceberg. Num relatório noticiado em dezembro de 2020, o Tribunal de Contas escreveu que os custos do Estado com o BPN já iam em 6200 milhões de euros.