Yolanda, Elena, Benjamim, Francisco, Lisandro e Letícia não são crianças malcriadas que só precisam de educação para se portarem bem. Têm problemas sensoriais, neurológicos e psicológicos que não compreendem, não pediram para ter e que os podem impedir de serem cidadãos contributivos no futuro.
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A falta de terapias ditada pelo corte dos subsídios de educação especial coloca tudo em causa. As mães choram, desamparadas e desesperadas. Querem o melhor para os filhos, um futuro pelo menos. "O meu maior medo é que o meu filho se mate ou magoe gravemente alguém. Do que é que a Segurança Social está à espera para ajudar-nos?", implora Liliana.
Maia
Subsídio máximo não pagava tudo
Melina, de 35 anos, está convencida que existem ordens superiores para cortar indiscriminadamente os subsídios de educação especial. "Nunca me explicaram porque cortaram o da minha filha Yolanda, sem junta médica, sem qualquer motivo", aponta. Os mais novos, Elena e Benjamim, de 9 e 3 anos, foram chamados a uma junta de verificação, no ano passado, para ser atribuída bonificação por deficiência. "Foi aceite, portanto reconhecem a deficiência, mas recusaram a educação especial mesmo perante a recomendação do pediatra. Recusaram receber o dossiê técnico terapêutico e, depois, alegaram que recusaram o subsídio por falta de entrega de documentação. É a gozar com as pessoas?", questiona a mãe dos três petizes, com transtornos do espetro do autismo, perturbação de hiperatividade/défice de atenção e transtorno sensorial. O subsídio máximo da Segurança Social não chegaria para pagar todas as terapias de que as crianças necessitam. "Se não querem dar subsídios, criem resposta no Serviço Nacional de Saúde (SNS)", apela a mãe. "Sem apoios, muitas crianças arriscam vir a ser adultos disfuncionais que vivem de subsídios, o que podia ser evitado agora", remata.
Felgueiras
Recusam sem ler relatórios médicos
Liliana já deu voltas à vida para, sozinha, se multiplicar para sustentar a casa, enquanto toma conta dos filhos - quatro, com idades entre os 12 e os 2 anos, dos quais só a mais nova não tem problemas de saúde. Aos 33 anos, a mãe sente-se no fim da linha por ter perdido os apoios que ajudavam os filhos.
"Não sei o que faça, estou desesperada. O meu maior medo é que o mais velho se torne delinquente e que o de 10 anos se mate ou magoe gravemente alguém", conta, entre lágrimas que teimam em escapar.
Francisco tem 12 anos e um diagnóstico de transtorno de oposição e desafio. Isso significa que a maior parte do tempo anda revoltado e não obedece a ninguém. "Agora deu-lhe para roubar os colegas. Não consigo falar com ele, só a psicóloga conseguia fazer alguma coisa", lamenta a mãe, que perdeu os apoios da educação especial dos filhos há poucas semanas.
Com 10 anos, Lisandro é a "maior preocupação" de Liliana. Tem o mesmo transtorno do irmão, amplificado pela hiperatividade. Mesmo medicado, tem alturas em que se "transforma, sem controlo e sem consciência", o que leva a mãe a temer algum episódio extremo. "Detesta a irmã e já a tentou estrangular", confessa a mãe, envergonhada e aflita. Letícia, de 5 anos tem dificuldades na fala e "começa a ter o mesmo transtorno dos irmãos ou porque nasceu assim ou porque os imita".
Em fevereiro, foram os três a uma junta de verificação. "Em cinco minutos e sem lerem os relatórios dos especialistas, que demoraram meses a conseguir, indeferiram os apoios", relata Liliana. "A Proteção de Menores está a par dos problemas e tentou arranjar terapias no SNS, mas não há vagas, nem serviço", lamenta Liliana.