Especialistas defendem testagem só para casos sintomáticos e uso de máscara em alguns casos.
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Certificado digital, uso de máscara, testes massivos à covid-19 e o isolamento profilático de coabitantes são medidas que começam a ser questionadas numa altura em que vários países europeus anunciam o alívio de restrições e Portugal já terá atingido o pico da atual vaga da pandemia, registando uma diminuição dos casos diários nos últimos dias. Mas o tema não é consensual.
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"É um erro dizer que a pandemia acabou, que vamos ter a libertação total ou que estamos a entrar em fase de endemia", considera Bernardo Gomes, investigador do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto. "Ainda estamos com elevada mortalidade e o vírus está a entrar nos mais velhos mais tarde, pois a onda ómicron foi alimentada sobretudo pela parte escolar", salientou ao JN. "O pico já foi mas vamos ter o pico da consequência hospitalar um pouco mais à frente", alerta.
Miguel Prudêncio, investigador do Instituto de Medicina Molecular de Lisboa, defende que "temos de encarar a ideia do regresso à normalidade como algo que tem de começar a acontecer" e compreende que "não se possa fazer tudo de uma vez", mas "há passos fundamentais que deviam ser dados já".
Testes para sintomáticos
No topo das suas prioridades está "o caso do isolamento de crianças por coabitação com um elemento da família positivo, em que são obrigadas a ficar em casa sete dias e, findo este período o outro familiar testa positivo e a criança tem de ficar em casa mais sete dias, e na prática há crianças que ficam duas ou três semanas sem poderem ir à escola. Isto não pode acontecer e tem de ser alterado rapidamente", critica. "Se não testa positivo e não tem sintomas" é preciso "salvaguardar o processo letivo das crianças", frisou ao JN.
"Testar massivamente as pessoas sem sintomas é algo que também tem de deixar de ser um paradigma", acrescenta, recomendando "testes mais direcionados para as pessoas que têm sintomas".
Bernardo Gomes diz que "o ajuste da testagem não pode passar por abdicar de sinalizar pessoas que estão infetadas" e que "é precoce mexer no tempo do isolamento [sete dias]", mas "pode-se fazer cada vez menos PCR para que haja um tempo de resposta útil".
Máscara com civismo
Para o especialista em saúde pública "há margem para simplificarmos algumas restrições em vigor, como os certificados" digitais que são obrigatórios na hotelaria e restauração, ginásios e eventos e eliminar alguns limites de lotações para espaços comerciais. Defende a necessidade de melhorar a ventilação dos espaços "em que as pessoas não consigam usar máscara", como é o caso das "crianças mais novas" nas creches e escolas. Mas devemos manter o uso de máscara, por exemplo, em "serviços públicos, transportes públicos, instituições de saúde e lares" de forma a proteger pessoas mais vulneráveis "que têm direito de ser cidadãos de pleno uso."
Miguel Prudêncio entende que "o uso de máscara tem de cair em breve" mas "deve ser uma norma obrigatória em contexto de urgência hospitalar". Além disso, "quem tiver sintomas, estiver constipado, com febre... deve ter um comportamento adequado porque pode transmitir", seja covid ou outra infeção respiratória. "Temos de começar a olhar para a covid como mais uma infeção de um vírus respiratório, como outros que convivemos" mas "com civismo", "é fundamental que esse convívio [com o SARS CoV-2] não se traduza em consequências graves para a saúde de grupos mais vulneráveis, como idosos e pessoas doentes".
A Direção-Geral da Saúde admite que as vacinas contra a covid-19 e o uso de máscara passem a ser sazonais como acontece com a gripe e que o tempo de isolamento, apenas para infetados, pode ser reduzido de sete para cinco dias. "Podemos aliviar medidas, como a máscara e a testagem para entrar em alguns sítios", disse ainda Graça Freitas à RTP.