O Hospital de S. João, no Porto, registou na segunda-feira 981 episódios de urgência, mais 29 do que na segunda-feira da semana passada, que já tinha sido muito complicada. Há 13 anos houve um dia assim e ninguém acreditava que poderia repetir-se.
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16 de novembro de 2009: 981 atendimentos na urgência; 28 de março de 2022: 981 atendimentos na urgência. O número crítico, que pode ser um barómetro da disfunção do sistema, foi novamente atingido na urgência do Hospital de S. João.
Há várias semanas que o maior hospital da região Norte tem registado uma afluência ao serviço de Urgência muito acima do desejável. As segundas-feiras são tradicionalmente complicadas, mas as últimas têm superado todas as expectativas. No dia 21 de março, o S. João contou 952 atendimentos e ontem somou mais 26 a este número. Nesta época, o normal são cerca de 600 episódios de urgência diários. Aquele dia não foi um caso isolado, tem havido vários com mais de 800 doentes.
Não há covid-19, nem sequer gripe que explique, por si só, tal afluência. O que preocupa mesmo são os casos não urgentes, que ali vão pelo próprio pé, causando perturbação num serviço de fim de linha destinado a receber doentes graves, em risco de vida. Ontem, 40% dos doentes atendidos foram triados com pulseiras azuis e verdes, o que significa que poderiam ter sido observados nos centros de saúde.
O diretor da Urgência, Nélson Pereira, tem alertado que os meios não são ilimitados. Numa urgência cheia, esperam-se horas, perde-se qualidade no atendimento, há riscos acrescidos para os doentes.
Tal como o JN noticiou no sábado passado, as urgências de todo o país registaram, no dia 21, um pico que não se via desde 2017, enquanto os centros de saúde tiveram procura normal para a época. Os sistemas de monitorização, disponibilizados pelo Ministério da Saúde, ainda não permitem perceber o que aconteceu ontem, mas a medir pelo S. João terá sido mais um dia de recordes.
Em reação à notícia do JN, a ministra da Saúde admitiu reforçar o atendimento nos centros de saúde tendo em conta a procura verificada nos últimos dias.
"Estamos com alguma procura decorrente de casos de gripe que está, em termos temporais, um bocadinho mais tardia em relação a anos pré- pandémicos. Estamos atentos à situação e em contacto com os nossos hospitais e atentos à necessidade de reforçar os centros de saúde", explicou Marta Temido.
O JN questionou ontem o Ministério da Saúde sobre a concretização deste reforço, mas não recebeu resposta até ao momento.