Os partidos políticos com assento parlamentar manifestam consenso sobre o acolhimento dos refugiados em Portugal, com os partidos mais à esquerda a criticar a inoperância da União Europeia.
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A vaga de refugiados, sobretudo sírios, que tem chegado às fronteiras da Europa e a resposta da União Europeia têm originado várias reações por parte dos líderes políticos em ações da pré-campanha e debates televisivos.
As vozes mais críticas têm surgido do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista Português. Já o secretário-geral do PS, António Costa, fala de uma Europa "incompleta" e "frágil" e o presidente do PSD e primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, considera que "a Europa precisa de se organizar melhor".
Fora dos principais partidos, o Livre/Tempo de Avançar defende a criação de um alto comissariado nacional para os refugiados, enquanto o PNR tem sido a voz dissonante no espectro político, comparando a vinda de refugiados a uma "invasão islâmica".
O que diz o PSD: Numa iniciativa de pré-campanha da coligação Portugal à Frente, em Lisboa, Passos Coelho defendeu que "todos na Europa" precisam de "fazer mais e melhor para resolver o problema das migrações" e rejeitou que se ponha em causa a liberdade de movimentos no espaço europeu.
O chefe do Governo considerou que "esse problema tem de ser olhado e atacado nos países de origem das migrações, nos países que servem também de passagem desses migrantes", procurando que "muitas das razões que levam essas pessoas a fugir à fome, à guerra, a condições extremas se possam alterar no futuro".
No final de um encontro com o primeiro-ministro britânico, David Cameron, o primeiro-ministro defendeu que a União Europeia (UE) precisa de "fazer mais, e urgentemente" face a conflitos como os da Síria e do Iraque, através de "um renovado envolvimento político".
Num debate transmitido em simultâneo nas rádios Antena 1, Renascença e TSF, Passos Coelho referiu que o Governo PSD/CDS-PP aceitou o acolhimento de cerca de 1500 pessoas de um "primeiro lote que ficou voluntariamente estabelecido entre todos" os Estados-membros da UE.
"Relativamente ao segundo, não houve infelizmente nenhum acordo. Nós não colocámos nenhum obstáculo a receber mais cerca de 2000 refugiados, mas poderemos vir a receber ainda mais alguns, se isso for necessário", adiantou.
Interrogado se a crise de refugiados pode motivar uma intervenção militar com participação de tropas portuguesas, o presidente do PSD respondeu: "Não creio que esta situação tenha uma solução militar. Julgo mesmo que uma solução militar acabará por agravar alguns destes problemas".
O que diz o CDS: Em entrevista à TVI, o líder do CDS-PP, Paulo Portas, defendeu que a Europa tem de tomar posições "com muita clareza" relativamente à questão dos refugiados, considerando que a chanceler alemã Angela Merkel foi quem mais se aproximou de honrar os valores humanistas.
No encerramento da Escola de Quadros do CDS-PP, Paulo Portas defendeu uma resposta coordenada da União Europeia à crise dos refugiados, afirmando que "o Mediterrâneo é o berço de uma civilização, não pode ser a sepultura" de vidas e valores.
"É preciso responder coordenadamente e com responsabilidade no quadro da União Europeia. O problema não é da fronteira de um país ou de outro, é da fronteira externa da União Europeia e, hoje em dia, da sua própria fronteira interna", afirmou.
O que diz o PS: Numa sessão em que respondeu a questões colocadas através da internet, o secretário-geral do PS considerou fundamental a existência de uma política comum europeia de asilo e defendeu que Portugal tem o dever e a capacidade de assumir uma posição "pró-ativa" no acolhimento de refugiados.
Para António Costa, o que se passa com os refugiados atualmente "é um infeliz exemplo de como existe Europa a menos, quer na gestão dos conflitos que deram origem a esses refugiados, quer ao nível da cooperação em termos de desenvolvimento, mas também no acolhimento solidário a dar aos que procuram a Europa".
Num debate sobre políticas sociais, António Costa voltou a defender uma atitude "pró-ativa" de Portugal neste domínio, sustentando que até poderá trazer benefícios para o país nos planos demográfico e económico, designadamente em zonas do território nacional em risco de desertificação.
No debate transmitido em simultâneo nas rádios, António Costa defendeu que somente "em último lugar" a atual crise de refugiados deve motivar uma intervenção militar.
O que diz o PCP: No encerramento da 39.ª Festa do "Avante!", o secretário-geral do PCP defendeu a necessidade de "atacar as causas" da crise de refugiados do Médio Oriente na Europa, citando as "políticas" de Estados Unidos, NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e União Europeia".
Jerónimo de Sousa falou das "imagens chocantes de centenas de milhares de seres humanos que chegam à Europa ou morrem às suas portas, fugindo da guerra, da pobreza, do desemprego, da destruição dos seus países", os quais considerou "sujeitos a processos de ingerência e de domínio imperialista".
"Aos hipócritas discursos, nós afirmamos: é necessário dar resposta ao drama humanitário, respeitar os direitos, criando condições para uma verdadeira integração. Mas é necessário, acima de tudo, atacar as causas - as políticas de EUA, NATO e UE, na destabilização e pilhagem de recursos desses países, pondo termo às agressões e não desenvolver outras, seja com que pretexto for, incluindo o falso pretexto de preocupação com os próprios refugiados", disse.
Numa ação da pré-campanha, o secretário-geral do PCP afirmou que as recentes decisões de controlo das fronteiras europeias face à crise de refugiados do Médio Oriente confirmam que Alemanha e a sua chanceler, Angela Merkel, "mandam na União Europeia".
O que diz o Bloco de Esquerda: Numa ação de pré-campanha, a porta-voz do BE desejou que o primeiro-ministro siga o exemplo da chanceler alemã face à crise de refugiados do Médio Oriente.
Durante uma visita ao Centro de Acolhimento de Refugiados da Bobadela, a porta-voz do BE disse que Portugal não pode continuar apenas com declarações, sendo necessário preparar "uma resposta descentralizada" para acolher o maior número de refugiados.
Catarina Martins considerou também que Portugal tem capacidade para acolher seis mil refugiados, devendo empenhar-se numa solução europeia.
Durante a inauguração, em Lisboa, de um mural de solidariedade do Bloco de Esquerda para com os refugiados, Catarina Martins defendeu a abertura de corredores humanitários para proteger os refugiados, considerando o controlo de fronteiras uma "imagem de falência da UE".
O que diz o Livre/Tempo de Avançar: Numa iniciativa da pré-campanha, o cabeça de lista por Lisboa do Livre/Tempo de Avançar às legislativas, Rui Tavares, disse que o aumento de refugiados a reinstalar em Portugal deverá servir de mote para a criação de um alto comissariado nacional sobre o tema.
Rui Tavares prometeu, em entrevista à Lusa, que se for eleito a sua primeira iniciativa terá que ver com a reinstalação e integração de refugiados.
O que diz o PNR: Em entrevista à Lusa, o líder do Partido Nacional Renovador (PNR), José Pinto Coelho, comparou a vinda de refugiados para a Europa a uma "invasão islâmica", afirmando que o Governo deve cuidar dos portugueses.
"Neste momento, está a haver um drama em Portugal, em concreto, que é a questão dos Governos quererem receber a invasão islâmica que aí vem", disse José Pinto Coelho, referindo que "há um imenso setor da sociedade portuguesa que está horrorizada com isso".