Bicicletas e trotinetas amigas do ambiente estão de volta aos espaços urbanos. A covid-19 parou-as, por uma questão de segurança sanitária, mas agora é tempo de a aposta ser retomada. Aos poucos, as cidades vão recebendo opções verdes, sem quaisquer custos em termos de poluição.
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A mobilidade verde está gradualmente de regresso às cidades. Bicicletas e trotinetas elétricas vão recomeçando a fazer parte da paisagem urbana depois da paragem forçada motivada pela pandemia de covid-19.
No Porto, onde a Câmara Municipal tinha previsto arrancar com um projeto de partilha a 15 de março - precisamente quando os casos de covid-19 começaram a disparar e foi necessário tomar medidas céleres para os travar - desde o passado dia 1 que a Hive entrou em atividade. As outras duas empresas que operam na cidade, a Bird e a Circ, arrancaram esta segunda-feira", garantiu ao JN Urbano fonte da Autarquia. O sistema de partilha prevê um total de 2100 velocípedes elétricos, espalhados por 210 pontos de parqueamento.
Vila Nova de Gaia, por seu lado, também interrompeu o programa de trotinetas partilhadas devido à crise de covid-19. O projeto, segundo fonte da Câmara, ainda se encontra suspenso e está em estudo quando será retomado. Já em Matosinhos, o regresso dos veículos de duas rodas de mobilidade suave deu-se na última segunda-feira, dia 1. E com novidades, nomeadamente as bicicletas sem doca, cujos utilizadores as poderão aparcar onde assim o desejarem. Disponibilizadas pela Hive, estão ao dispor 50 trotinetas e 30 bicicletas em vários pontos da cidade. "Os veículos são higienizados diariamente", sublinhou a Câmara de Matosinhos, que apelou a que o estacionamento dos veículos "seja feito de forma a não criar dificuldades de utilização da via pública". Em Gondomar, onde existem mais de duas dezenas de pontos de partilha de trotinetas espalhados pelo concelho, num sistema proporcionado pela Flash, o Município ainda está a estudar o retorno.
Incentivos à compra de biciceltas elétricas
Mais a sul, em Lisboa, a Autarquia anunciou na última semana um total de três milhões de euros para o incentivo à compra de bicicletas. A verba, retirada do Fundo de Mobilidade da Câmara liderada por Fernando Medina, pretende auxiliar os moradores que queiram adquirir um velocípede para deslocações regulares. Quem optar por uma bicicleta convencional pode receber apoios até 100 euros, quem preferir uma bicicleta elétrica a verba pode ascender aos 350 euros.
Empresas houve que aproveitaram o período de paragem para se reinventarem. Foi o caso da Kapten, que formalmente deixou de existir enquanto tal e passou a estar integrada na rede FREE NOW, que reúne TVDE, táxis trotinetas e bicicletas elétricas". Disponível através de uma aplicação comum na áreas do Grande Porto e da Grande Lisboa, pretende ser uma resposta à nova realidade do quotidiano. Portugal é o primeiro país europeu em que a Kapten se junta à FREE NOW. Trata-se de um mercado muito interessante, consolidado e aberto a novas tecnologias, perfeito para lançar a nossa vasta oferta de mobilidade, explicou Marc Berg, CEO da FREE NOW.
O otimismo verde de uns esbarra de frente com o pessimismo de quem não encontra razões para sorrir. É o caso dos condutores de tuk-tuk, a quem a realidade atual roubou os clientes de sempre. Como o regresso dos turistas ainda é uma incógnita no calendário, este setor, que mobiliza mais de um milhar de trabalhadores só na zona de Lisboa, está preso a perspetivas negras.
"A nossa única certeza é a incerteza", resume Inês Henriques, presidente da Associação Nacional de Condutores de Animação Turística e Animadores Turísticos (ANCAT). "Tivemos quebras de 100%. Não é exagero. Durante a pandemia estivemos totalmente parados, sem atividade e, consequentemente, sem quaisquer rendimentos", descreve a responsável.
Além dos empresários ligados aos tuk-tuk, a ANCAT representa também quem tem outros negócios dependentes do fluxo de turistas, nomeadamente atividades como asa-delta ou parapente, bicicletas, segways, windsurf, kitesurf ou viaturas de aluguer. "Todas sofreram abalos, havia reservas programadas até ao final do verão que foram, obviamente, canceladas. A área turístico-marítima, por exemplo, também está totalmente parada devido à suspensão dos cruzeiros", relata Inês Henriques.
Tivemos colegas que passaram fome. Fome, mesmo. Sem dinheiro, não tinham possibilidade de comprar comida e fazer face a outras despesas
Desde meados de março, quando a covid-19 obrigou o país a confinar-se em casa, que a ANCAT se depara com situações antes inimagináveis. Com os veículos parados e os trabalhadores sem fontes de sustento, houve casos de desespero que chegaram ao conhecimento da associação e obrigaram à tomada rápida de medidas para salvaguardar o mínimo de dignidade entre os pares. "Tivemos colegas que passaram fome. Fome, mesmo. Sem dinheiro, não tinham possibilidade de comprar comida e fazer face a outras despesas. Estamos a falar, inclusive, de casais ligados aos tuk-tuk que, de um dia para o outro, ficaram sem nada, muitos deles com filhos", aponta Inês Henriques. "A ANCAT chegou mesmo a realizar recolhas de alimentos para ajudar quem precisou de comer e não tinha como", completa. Segundo calcula, só na região de Lisboa há 1500 pessoas dependentes deste negócio em particular. Todas ficaram a zero da noite para o dia.
Com o turismo completamente parado, os negócios ligados à mobilidade a ele associado estão de horizontes cortados. Se, por um lado, acreditam que a retoma é praticamente inevitável, por outro lado, devido à imprevisibilidade dos tempos que atravessamos, não sabem quando tal realidade será tornada possível.
"A incerteza é grande a todos os níveis. Ainda há quem acredite no velho slogan do "vá para fora cá dentro" e pense que os portugueses serão turistas no próprio país durante este ano, de forma a minimizar os problemas provocados pela falta de estrangeiros. Mesmo assim, essa possibilidade é remota pois muita gente perdeu rendimentos e não terá dinheiro para gozar férias", calcula a presidente da ANCAT