A principal preocupação dos proprietários e funcionários dos restaurantes na zona da Ribeira, no Porto, é que as novas exigências de teste negativo à chegada ao país travem a vinda de estrangeiros, que são os seus principais clientes. De resto, até admitem que algumas das medidas - como a apresentação do certificado de vacinação e o uso de máscara no interior - deviam ter sido antecipadas. Temem que o país e o resto do mundo voltem a ter de fechar.
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É difícil percorrer a zona ribeirinha da cidade portuense e ouvir falar português. Ainda não são 13 horas e os turistas já enchem as esplanadas, com copos de bebida e refeições ligeiras. A música dos artistas de rua junta vários forasteiros em grupo, a maioria sem máscara ou distanciamento físico. O anúncio, feito esta quinta-feira por António Costa, sobre o regresso da apresentação do certificado digital e do uso de máscara nos restaurantes não surpreendeu os responsáveis dos espaços ouvidos pelo JN. "Eu acho muito bem mediante a evolução da pandemia", atira Vânia Lopes, sub-chefe de sala do Café do Cais.
A esplanada é o ponto forte daquele estabelecimento que, apesar de ter um espaço interior, assegura o negócio sobretudo no exterior. "A não ser que fechem as fronteiras, não nos vai afetar nada [novas medidas]", detalha a funcionária. Um dos maiores receios é o aperto nas restrições das viagens oriundas do estrangeiro - a partir de 1 de dezembro, quem vier de fora terá de apresentar um teste negativo à covid-19 -, uma vez que "90% dos clientes" são turistas. Por esta altura, a apreensão ainda está longe do Café do Cais. Mas, se o turismo falhar, o lucro não será o mesmo, justifica.
Mais à frente, numa outra esplanada, a francesa Mathieu Marie diz que foi o sol que a trouxe até Portugal, assim como as maiores facilidades em entrar no país. "Antes de vir para cá, queríamos ir a Amesterdão [Países Baixos], mas não estava fácil", diz ao JN. Na semana passada, aquele país registou, em média, mais de 20 mil infeções diárias e estão em vigor várias restrições como o encerramento dos bares e restaurantes às 20 horas.
No restaurante em que Mathieu está a almoçar, lá dentro, o português João Gonçalves encontrou no passado "resistência" no cumprimento de regras, nomeadamente o uso de máscara - que não é obrigatório desde 1 de outubro. Para o sócio-gerente do Peza Arroz, as novas medidas surgem agora "tardiamente", deviam ter sido anunciadas "há 15 dias ou há um mês". "Ainda ontem [quinta-feira] disseram que é possível chegar aos seis mil casos e que, em janeiro, serão muitos mais. Aí podemos ter de encerrar e será pior", afirma.
Tal como aconteceu em meses anteriores, altura em que a apresentação do certificado digital era obrigatória aos feriados e fins de semana, o proprietário terá de se colocar novamente à porta do restaurante. "É um bocado chato", refere, lembrando episódios "de aborrecimento" com clientes estrangeiros, que não compreendiam as restrições.
Bem perto da porta do estabelecimento, Eugénio Sousa veio de Felgueiras para almoçar na Ribeira. Num grupo de mais três pessoas, o português garante sentir-se seguro naquela zona movimentada do Porto. "Tudo o que seja para a nossa saúde deve ser aplicado", opina o cliente sobre o reforço das medidas de contenção. A máscara de proteção individual é cada vez menos visível na rua e a subida de casos de covid-19 é vista com "alguma preocupação", diz. A Direção-Geral da Saúde registou, esta sexta-feira, mais 3205 infeções diárias e oito mortes.
Na voz de Horácio Magalhães já se nota o desalento. "Se calhar, nunca se devia ter desconfinado de uma forma geral. Devia ter sido mais compassado", defende. Para o chefe de mesa no restaurante Avó Maria, os responsáveis da restauração não têm autoridade para exigir a apresentação do certificado digital. "Quem somos nós? E se as pessoas rejeitam o que é a gente faz? Vamos pô-las lá fora? Somos polícias?", questiona.
Para já, conscientes das novas regras, os proprietários receiam sobretudo as próximas semanas e os primeiros dias de janeiro, caso a pandemia agrave em Portugal. "Se o Governo tomar outras medidas, ainda mais duras, mais difícil será. As pessoas estão cansadas e saturadas das medidas, tendo consciência de que são necessárias", conclui Horácio Magalhães.