O incêndio terrível que queimou a envolvente de Oliveira do Hospital em outubro de 2017, resultando em oito mortes e danos ou destruição de cinco fábricas do setor florestal, foi consequência do reacendimento de um incêndio a que os bombeiros responderam vários dias antes, mas que não foi completamente extinto.
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Reacendimentos são incêndios que foram suprimidos com sucesso, mas não completamente eliminados. Quando o ataque inicial é bem-sucedido, pensa-se que o combate está terminado e os bombeiros vão embora; geralmente, ninguém volta para verificar novamente se o incêndio foi completamente extinto. Então, algum tempo depois - horas ou até dias depois -, brasas que ainda duram são ventiladas por uma brisa, acendendo chamas, e o fogo volta à vida quando não há ninguém por perto.
O nosso recente relatório citou dados do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (EFFIS), de 2012 a 2016, mostrando reacendimentos que representam 10% a 20% das ignições anuais em Portugal nos cerca de 25% dos incêndios em que a causa foi determinada. (Que para 75% dos incêndios em Portugal nunca seja determinada a causa, é um problema diferente.) E como o fogo de Oliveira do Hospital mostra, esses incêndios nascidos de novo às vezes resultam em destruição terrível.
Enquanto realizávamos entrevistas para o nosso relatório de 2018 das reformas de gestão de incêndios em Portugal, descobrimos que os reacendimentos são principalmente o resultado de dois fatores. O primeiro é uma cultura dos Corpos de Bombeiros voluntários de trabalhar sempre com mangueiras e água, permanecendo nas estradas e evitando o uso de ferramentas manuais. Na maioria dos casos, os incêndios florestais não podem ser completamente extintos apenas com água. As ferramentas manuais devem ser usadas para acabar com brasas e biomassa incandescente. Há muitas causas subjacentes a essa deficiência, mas é um problema que pode ser corrigido com formação específica, responsabilização das lideranças, manutenção dos padrões de adequação dos bombeiros e aumento do pagamento para obter melhor desempenho.
A segunda razão, que pode representar um desafio maior, é a ocorrência de demasiados incêndios diariamente, o que muitas vezes obriga as equipas de combate a deixar prematuramente o fogo em que estão a trabalhar, para responder a um novo foco que pode representar uma ameaça maior. Em muitos dias, especialmente durante os meses de verão mais quentes e secos, pode haver dezenas a centenas de novos incêndios que exigem uma resposta. Esse padrão pode continuar inabalável por semanas. Os bombeiros rapidamente ficam sobrecarregados e fisicamente exaustos pelas solicitações devido a ações negligentes e muitas vezes intencionais da indústria e da população.
Identificámos os reacendimentos como um dos principais temas de preocupação no nosso relatório e estes estão a gerar um debate construtivo. O problema está a melhorar ou a piorar? Os períodos de aumento de ocorrências levam a mais reacendimentos? Analisámos os dados e foi isso que encontrámos.
Os dados de incêndios de Portugal, embora limitados, mostram duas "tendências" dignas de nota. Primeiro - como percentagem do total de incêndios mensuráveis em Portugal - os reacendimentos estão a aumentar. De 2000 a 2009, representaram 3% dos incêndios anuais com mais de 0,1 ha, mas desde 2010 estão em média acima de 8%. A linha de tendência na Figura 1 projeta um aumento para 10% até 2020.
Em segundo lugar, há uma relação clara em anos críticos de fogos entre os reacendimentos e os períodos com elevado número de ignições. A Figura 2 mostra a percentagem de reacendimentos para os 5 meses mais movimentados de 2017, de junho a outubro, em comparação com o número de incêndios para cada um dos 21 períodos semanais (7 dias). Para 2017, a conclusão é clara: mais incêndios resultam em mais reacendimentos. É necessária uma análise adicional de outros dados de anos críticos para validar essa conclusão.
Por que é isso importante? Quando um problema mostra uma tendência crescente e está ligado a um período de stresse extremo, sinaliza a necessidade de repensar a estratégia ou, pelo menos, reavaliar as táticas. Alguns podem argumentar que este não é um problema prioritário, uma vez que os reacendimentos representam apenas 5% do total de hectares queimados em Portugal desde 2000 (na realidade, 9,8% desde 2010 - mais uma vez uma tendência crescente). No entanto, como observado anteriormente, os reacendimentos são incêndios absolutamente desnecessários que podem levar vidas preciosas e causar grandes danos às comunidades, indústrias e recursos naturais.
O ponto é que Portugal precisa de reexaminar continuamente a sua estratégia operacional para a gestão de combustíveis florestais, prevenção e proteção contra incêndios. Essa avaliação deve acontecer mais cedo e dentro dos círculos de gestão de incêndios em Portugal que lideram o esforço para corrigir os crescentes riscos. Análises pós-ano de incêndios e relatórios de comissões pós-incidente são úteis, mas o sistema precisa de análise e monitorização em tempo real - não apenas para ser mais estratégico, mas para projetar e agir em problemas emergentes.
Resolver o problema dos reacendimentos é um bom exemplo do que precisa de acontecer e por quê. Com condições climáticas favoráveis e húmidas no inverno, há uma boa possibilidade de Portugal ter uma folga do catastrófico ano de 2017. Então, o mais importante é que a proposta de reforma de combustíveis e gestão de fogo prossiga vigorosamente e que os maiores desafios do país, como o estabelecimento de campanhas públicas para reduzir as ignições e repensar as táticas de supressão relacionadas com os reacendimentos, sejam debatidos e, mais importante do que isso, sejam levados em conta.