As doenças oncológicas representam 50% dos ensaios clínicos de medicamentos para uso humano feitos em Portugal, seguidas pelo HIV-SIDA. Os dados do Infarmed - Autoridade Nacional do Medicamento, a quem cabe autorizar a realização dos ensaios, revelam que nos hospitais, mesmo com a pandemia, a investigação continuou.
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Em 2020, foram submetidos 187 pedidos e autorizados 155 ensaios. No ano seguinte, em 2021, foram apresentados 175 pedidos, tendo sido autorizados 144. Até março, o Infarmed recebeu 48 pedidos e autorizou 39 (81,2%),mas o tempo médio de decisão aumentou para 44 dias úteis.
Desde 2006, o ano em que o Infarmed disponibiliza os primeiros números sobre o tema, os ensaios realizados não param de crescer. A indústria farmacêutica (que usa os ensaios para fins comerciais) é responsável pela grande maioria das iniciativas.
Os ensaios académicos (promovidos por estabelecimentos de ensino e investigação e sem fins comerciais) têm um papel cada vez menor. Em 2020, 167 ensaios clínicos foram promovidos por farmacêuticas e 20 por academias. Um ano depois, o número de estudos feitos por empresas mantinha-se nos 167 enquanto os ensaios académicas desceram para oito. "Claramente, as universidades têm menos dinheiro para investigar", disse ao JN um docente da Faculdade de Medicina do Porto.
Novos medicamentos
"Nos últimos anos assistimos a desenvolvimentos científicos que são visíveis nos novos medicamentos, como não há exemplo na nossa história", frisou Paula Martins de Jesus, diretora da farmacêutica MSD. Sobretudo na área oncológica, a especialista diz que não é comparável, por exemplo, "a qualidade de vida de uma mulher com cancro de mama hoje com a de há dez anos".
"A ciência evoluiu muitíssimo e os ensaios clínicos foram fundamentais para que surgissem novos medicamentos para melhorar a vida das pessoas", referiu a diretora. Nos anos da pandemia, houve algum "abrandamento" na realização de ensaios, mas os estudos nunca pararam porque "nenhuma doença deixou de existir". "Neste momento, temos 30 ensaios a decorrer em Portugal, a maioria na área da oncologia, para doenças de mama, cabeça e pescoço", explicou Paula Martins de Jesus.
Para a realização de um ensaio clínico é necessário existir um programa pré-clínico, com a duração entre três e cinco anos, onde o fármaco é estudado, geralmente em animais. Na fase do desenvolvimento clínico (entre três e dez anos), recorre-se a ensaios clínicos. É nesta fase que se compilam os dados que comprovam (ou não) a eficácia e a segurança do fármaco, terminando no pedido de autorização para a introdução no mercado.