A Ordem dos Médicos (OM) colocou-se, esta segunda-feira, ao lado dos internos que se recusam a fazer mais do que 150 horas extraordinárias e exigiu do Governo medidas para fixar esses profissionais no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Para o bastonário Miguel Guimarães, não está em causa o valor do pagamento das horas extra mas as condições de trabalho. E, se nada for feito, "há o risco de haver urgências sem médicos".
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"É preciso agir e fazer as reformas que são necessárias para que estes jovens internos optem por ficar no SNS", reclamou o bastonário dos Médicos, após uma reunião com 20 internos, cujas sugestões serão enviadas à ministra da Saúde.
A reunião ocorreu depois de 482 de 1 061 internos da especialidade de Medicina Interna terem enviado a Marta Temido uma carta a recusarem fazer mais de 150 horas extraordinárias por ano e a avisar que vão entregar minutas de escusa de responsabilidade.
Para Miguel Guimarães, o regime temporário de remuneração do trabalho suplementar dos médicos em serviços de urgência é insuficiente para resolver o problema do SNS. "Não é de dinheiro que estamos a falar. Essa é uma situação de equidade", vincou o bastonário, explicando: "Mais de 50% dos médicos que formamos está fora do SNS. Temos de conseguir uma taxa de opção de cerca de 80%".
Um para 120 ou 150 camas
Para tal, o bastonário considera que é preciso "dar outras condições de trabalho às pessoas". "Não se pode olhar para os médicos internos como se fossem os escravos do sistema. Isto não é possível nem aceitável num país democrático".
Por exemplo, uma interna em formação do Hospital Pedro Hispano (Matosinhos) emocionou-se ao relatar que já fez mais de 200 horas extraordinárias e que não tem tempo para estudar. "Muitas vezes, somos usados para tapar buracos das urgências. Vemo-nos sozinhos a assegurar noites e dias, sem qualquer apoio. Muitas vezes, há um único interno para 120 ou 150 camas", contou Sara Pereira.
"Não há falta de médicos. Há é falta de médicos a sujeitarem-se a isto", garantiu, de seguida. "Em Portugal temos o número de médicos suficientes para dar resposta ao que o SNS precisa", reforçou Miguel Guimarães, avisando que, se não forem criadas melhores condições de trabalho, "os especialistas vão sair em massa do SNS".