As eleições para a liderança da Ordem dos Enfermeiros realizam-se esta quarta-feira. Só duas listas apresentaram candidato ao cargo de Bastonário. O JN apresentou quatro questões a Ana Rita Cavaco, eleita em 2016, e Belmiro Rocha.
Corpo do artigo
1. Qual a principal prioridade para o mandato 2020-2023?
2. O que propõe para haver dotações seguras de enfermeiros nos serviços?
3. O que fazer pela valorização social e profissional dos enfermeiros?
4. O último mandato foi marcado por um clima de conflitualidade com a tutela. Isto teve impacto na imagem dos enfermeiros e na defesa dos interesses da profissão?
Nunca se falou tanto de enfermeiros
Ana Rita Cavaco
43 anos
Bastonária OE (2016-2019)
1. Contratação de enfermeiros e dotações seguras, com denúncia pública no SNS, privado e social. A exaustão gera erro clínico, baixas, abandono da profissão e 20 mil estão no estrangeiro. Com enfermeiros a menos a taxa de mortalidade sobe 7%. São vidas, isto tem de ser uma prioridade para todos.
2. Tem de haver contratação no Estado, privado e social. Monitorizar a nova Norma para o Cálculo de Dotações Seguras que criámos neste mandato e divulgar o seu incumprimento.
3. Mais Competências Acrescidas, criámos nove e estamos a desenvolver muitas outras. Criámos seis especialidades e queremos o Internato de Especialidade para fazermos a especialidade em serviço, sem a pagar do nosso bolso e no nosso tempo. O nosso estudo comprova que os enfermeiros são um investimento: contribuem para reduzir a taxa de mortalidade, os dias de internamento, os reinternamentos, as infeções hospitalares, entre outros.
4. Mas o impacto não foi negativo. Nunca se falou tanto de enfermeiros, fomos a palavra do ano em 2018 e, hoje, as pessoas finalmente sabem que há falta de enfermeiros, não temos carreira digna, trabalhamos em exaustão, ganhamos cerca de 980 euros/mês e 20 mil estão no estrangeiro. Nenhum Governo gosta de vozes incómodas mas foi graças à minha voz incómoda que o Executivo contratou mais enfermeiros do que o que queria e reintroduziu a categoria do Enfermeiro Especialista. Mas é preciso mais.
Estratégia usada foi inconsequente
Belmiro Rocha
52 anos
Enfermeiro-chefe no CHVNG/E
1. Restabelecer a confiança na enfermagem. É com esta força acrescida que nos propomos retomar as pontes e a capacidade para fazer avançar a profissão.
2. Rever o atual regulamento e negociar o seu caráter vinculativo.
3. Desenvolver e negociar modelos de prestação de cuidados que rentabilizem melhor as competências dos enfermeiros e influenciar a alteração do modelo de financiamento para que valorize mais as intervenções de enfermagem. Pugnar, ainda, pela integração da enfermagem no ensino universitário.
4. Sim. Os enfermeiros, globalmente, têm razão no que reclamam da tutela e da sociedade, nomeadamente a melhoria das condições de trabalho para prestarem melhores cuidados e o reconhecimento do valor social e económico da profissão. Porém, o grau de conflituosidade foi tal que destruiu a possibilidade de existir sequer diálogo. A estratégia foi inconsequente e descredibilizada a ponto de impedir a capacidade negocial com a tutela e com outras entidades externas e internas assim como a consecução dos desígnios da Ordem dos Enfermeiros (defesa da qualidade de cuidados e da dignidade da profissão). A Ordem dos Enfermeiros não pode deixar de estar sempre presente nos espaços institucionais de decisão com efetiva capacidade de negociação e influência, caso contrário caímos no paradigma de "orgulhosamente sós", que nada resolve. Bem pelo contrário.