Acompanhamento feito pelos agrupamentos é diversificado e diretores defendem que depende das condições técnicas. Ensino à distância não é obrigatório para estudantes em casa. Há quem opte por mandar trabalhos.
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A Confederação Nacional de Pais (CONFAP) defende que as escolas devem assegurar, de forma prioritária, aulas online para todos alunos em isolamento. À Confap, assegura Jorge Ascenção, têm chegado "algumas queixas", "uma a duas por semana", sobre a disparidade de respostas que têm sido dadas pelos agrupamentos.
Há casos de famílias com dois ou mais filhos, em diferentes agrupamentos ou até no mesmo, a quem é dado acompanhamento diferente. Muitos professores, estima o presidente da Confap, limitam-se a pedir trabalhos aos alunos através da plataforma "classroom".
"Sabemos que há escolas com falta de condições técnicas e que a maior parte dos professores procura manter ligação com os alunos, mas consideramos que a opção online deve ser uma prioridade. Não podendo ser presencial, é a melhor das piores soluções", defende Jorge Ascenção, insistindo que há alunos que acumulam isolamentos. Interpelado pelo JN sobre esta situação, o Ministério da Educação apenas frisa que os planos de contingência preveem a disponibilidade de aulas à distância, embora não sejam obrigatórias.
Escolas têm autonomia
As aulas síncronas transmitem em direto para quem está em casa o que se está a passar na sala através da imagem do quadro. Cada agrupamento tem autonomia para aprovar o acompanhamento que deve prestar aos alunos em isolamento. No privado, as aulas online "são uma realidade". No público, não.
"Temos de confiar nos professores e não partir do princípio que um aluno em casa, sozinho, a olhar para o computador está a aprender", afirma o presidente da associação de diretores (ANDAEP). Filinto Lima sublinha que, nas atuais regras da DGS, os alunos agora perdem cinco dias de aulas e que há "outras estratégias, como disponibilizar conteúdos e enviar fichas". "Não se pode generalizar, nem dramatizar".
Já Manuel Pereira, presidente da associação de dirigentes escolares (ANDE), aponta a falta de condições técnicas como a principal razão para a disparidade de respostas. "É certo que a maioria dos alunos tem portáteis, mas há zonas onde a rede de Internet é muito fraca para garantir um trabalho de qualidade", afirma. Além disso, refere, muitas salas têm computadores obsoletos, que precisam de câmaras externas que as escolas não têm para todas as aulas em simultâneo.
"Quase presencial"
Em Cinfães, na básica General Serpa Pinto, as aulas online são uma realidade para quem está em casa, seja aluno ou professor. Mas a escola é a única do país equipada com "smartboards" em todas as salas.
Óscar Ferreira Gomes, professor de Matemática há 25 anos, garante que não é "fanático pelas novas tecnologias", mas está rendido aos novos equipamentos, sobretudo desde que positivou para a covid-19 e está a dar aulas a partir de casa.
"Estou a dar Geometria. Antes podia demorar uma aula só para demonstrar o cálculo dos ângulos, com compasso e transferidor; agora, com o smartboard demoro segundos", aponta. Basta os alunos fazerem "download" de um programa, "com uma versão gratuita online, para conseguirem aceder ao smartboard a partir de casa e resolverem exercícios no quadro como se estivessem na sala. É quase como se estivessem lá", diz. O docente admite que dar aulas em simultâneo na escola e a alunos em casa não é fácil, especialmente sem as melhores condições. Nos confinamentos com todos em casa, era mais fácil, mas a distância impõe aulas muito expositivas com pouca interação com os alunos, diz.
Tecnologia
"Tenho uma escola diferente. É o futuro"
O agrupamento General Serpa Pinto é uma escola TEIP (Territórios Educativos de Intervenção Prioritária), em Cinfães. Esta rede de estabelecimentos é financiada por fundos comunitários e, no ano passado, o diretor Manuel Pereira conseguiu "quase 200 mil euros" para apetrechar todas as salas com "smartboards e ipads", tecnologia de ponta que, desde o arranque do 2.º período, tem revolucionado as aulas, apesar dos muitos isolamentos. "Tenho uma escola diferente nestas três semanas com professores e alunos muito motivados. Acredito que é o futuro", garante ao JN o diretor.
Colégios respondem à pressão das famílias
Só no Pré-Escolar é "muito difícil" de ter aulas síncronas
As aulas síncronas, transmitidas em direto para os alunos que estão em isolamento em casa, "são uma realidade na generalidade dos colégios", assegura Rodrigo Queirós e Melo. "Nos colégios não podemos dizer simplesmente às famílias que os filhos vão ficar uma semana sem aulas. Os pais, no privado, têm um grande poder", assume o diretor- -executivo da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo (AEEP).
Com o pico da onda pandémica já ultrapassado, as escolas começam a sentir "alguma acalmia" e a registar menos alunos em isolamento, garante. A gestão, no entanto, "continua a ser complicada".
Igual para os docentes
A disponibilidade de aulas online não é uniforme, "variam, especialmente para os mais novos. No Pré-Escolar é muito difícil", frisa. Durante os confinamentos, com todos em ensino à distância, era assegurada resposta, mas agora apenas com alguns em isolamento não faz tanto sentido, explica, até porque as imagens transmitidas (tal como acontece nos agrupamentos públicos) "é tipicamente o quadro". "Os alunos ouvem o professor" e, por isso, a partir do 1.º Ciclo já é "mais fácil".
Com condições técnicas asseguradas, Rodrigo Queirós e Melo assegura que, no caso dos colégios, a disponibilidade de aulas síncronas não varia de "professor para professor" como pode acontecer entre as escolas públicas. Os estabelecimentos têm autonomia para aprovar o seu plano de contingência e dar resposta aos alunos em isolamento. E essa estratégia é seguida por todos, com exceção de aulas práticas de Artes ou Educação Física, admite.
A saber
7 dias de isolamento
Desde o arranque do 2.º período há novas regras de isolamento, atualizadas pela Direção-Geral da Saúde: apenas casos positivos e coabitantes têm de ficar em casa sete dias (o que com os fins de semana são cinco dias de aulas), colegas e docentes devem fazer teste até ao terceiro dia após o diagnóstico. Um caso deixou de enviar para casa turmas inteiras.
600 mil portáteis
A promessa de universalização já terá sido cumprida. Às escolas terão chegado 600 mil portáteis para serem atribuídos aos alunos. No ano passado, foram distribuídos cerca de 450 mil. O programa também prevê o reforço da rede de Internet e formação para professores.