Variante ómicron é muito contagiosa mas há casos de coabitantes que não ficam infetados. Especialistas dão várias explicações, como os contactos na família e as condições da habitação.
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Já preparadas para a passagem de ano, vestidas com estilo e penteados feitos, as manas Matilde e Sofia tratavam do último preparativo antes de saírem com os pais para jantar: o autoteste à covid-19. Pai e mãe negativos, a irmã de 16 anos negativa mas, Sofia, de 13, deu positivo. Um resultado que alterou os planos dessa noite e dos dez dias seguintes que foram de isolamento para a família. Nem a irmã reinfetou [já tinha tido covid em julho passado] nem os pais tiveram covid-19. O mesmo aconteceu com Luísa, 13 anos, que testou positivo à covid-19, cumpriu isolamento com a mãe e o irmão, de 16 anos: ele foi infetado e a mãe não, sem perceber porquê.
"Temos tido muitos exemplos destes e também ficamos surpreendidos", confessou o virologista Paulo Paixão ao JN. "A maior parte fica infetada mas realmente há casos que não se explicam muito bem".
O presidente da Sociedade Portuguesa de Virologia aponta a "imunidade inata". "Outra possível explicação é a vacinação, mas isso também não explica tudo". Acrescenta que "tem mais a ver com a casa e a probabilidade pois nem todas as pessoas têm o mesmo nível de exposição", além de que, sublinha Paulo Paixão, "quando as pessoas sabem [que estão infetadas] têm sempre um bocadinho mais de cuidado".
Muitas variáveis em jogo
No mesmo sentido, o pneumologista Filipe Froes considera que esta situação "faz parte da variabilidade possível" das "características da infeção, do emissor e do recetor e das características sociais do contacto".
"É família, infetam todos? Nem pensar", defende o coordenador do gabinete de crise para a covid-19 da Ordem dos Médicos. E dá um exemplo: "se o infetado e o coabitante são os dois vacinados com o reforço, significa que a pessoa infetada tem menos carga viral e durante menos tempo e a pessoa que coabita também tem menos risco de desenvolver a infeção".
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Filipe Froes refere ainda que "nas dinâmicas familiares nem todos os coabitantes têm o mesmo risco de exposição". "Se forem filhos pequenos a mãe quase de certeza que apanha porque toma conta dos miúdos" mas quando há "infetados que são jovens adultos, autónomos, quando estão com o resto da família usam máscara e cumprem as regras".
Outro fator tem a ver com "a capacidade de ter menor densidade na habitação, maior capacidade de arejamento e de manter circuitos que evitem a proximidade", acrescenta.
A variante ómicron é mais contagiosa "mas se estiverem todos em casa de máscara, manterem a distância, se as pessoas infetadas forem comer numa altura diferente dos outros, o risco de contágio é pequeno", reitera Filipe Froes, insistindo nestes cuidados.