O Instituto de Apoio à Criança (IAC) escolheu o Dia da Criança para lançar a estratégia da campanha "Nem Mais uma Palmada", que quer acabar com a punição corporal a menores e sensibilizar os pais para procurarem outras formas de repreender os filhos. Para Manuel Coutinho, secretário-geral do IAC, a palmada pode deixar consequências sérias no futuro das crianças, podendo repercutir-se em violência conjugal no futuro.
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Para Manuel Coutinho, secretário-geral do IAC, "não existe palmada pedagógica. Ou é palmada ou é pedagogia", disse, em declarações aos jornalistas, durante o encontro, que decorreu na Fundação Champalimaud, esta quarta-feira. Palmada e pedagogia são "duas palavras que não vão no mesmo sentido, vincou.
Para combater os maus tratos infantis, "o IAC quer fazer uma campanha para sensibilizar as pessoas que devem utilizar outras formas de educar, devem conversar com os filhos", por mais difícil que seja, defendeu o psicólogo.
"Uma palmada que é dada hoje dói no futuro, não dói só hoje", disse, garantindo que este tipo de atos tem diversas repercussões no crescimento e desenvolvimento infantil. As crianças veem os adultos de baixo para cima, disse, e, ao apanharem, crescem com a banalização da violência e com tendências para mimetizar esses comportamentos: "crescem aprendendo que batendo se defendem".
"É por isso que depois chegam à idade adulta e vemos homens a bater em mulheres, mulheres a bater em homens, jovens a baterem nos pais... Porquê? Porque há uma grande cultura da tolerância no que aos maus tratos diz respeito", afirmou, alertando para os riscos de mimetismo.
A família deve existir para proteger as crianças e não para lhes bater, defendeu. Segundo o secretário-geral da IAC, as soluções têm de ir mais além da lei, que não pode resolver tudo. É neste campo que a campanha "Nem Mais uma Palmada" pretende atuar, com diversas ações de sensibilização para pais e sociedade em geral, que demonstrem as consequências destes atos.
Estado deve proteger os mais vulneráveis
Presente no lançamento da estratégia, a provedora de Justiça, Maria Lúcia Amaral, saudou os avanços no respeito pelos direitos das crianças, mas ressalvou que ainda há muito caminho a fazer. "Todos nós, em conjunto, neste domínio (...) fizemos imenso", disse, apontando a redução drástica da taxa de mortalidade infantil e o combate à "chaga" de Portugal nos anos 70, o trabalho infantil, disse em declarações aos jornalistas. Foi um grande feito no "plano internacional".
Maria Lúcia Amaral lembrou que durante a pandemia "a violência dentro da família aumentou", revelando que os períodos de confinamento foram um verdadeiro "teste para todos os problemas".
É dever do Estado intervir pois tem o dever de proteger os mais vulneráveis, defendeu. Mas essa ação tem de ser feita com cautela, tendo em mente que a "família é uma realidade social própria". "O Estado não pode intervir no mundo familiar de qualquer maneira, rematou.
O encontro, que decorreu esta quarta-feira na Fundação Champalimaud, começou com uma mensagem do presidente da República, na qual Marcelo Rebelo de Sousa apelou à "tolerância zero" relativamente aos maus tratos infantis, e reuniu especialistas e personalidades que se alinharam com o objetivo da campanha: proteger os direitos das crianças e combater todas as formas de violência.