O sistema mais moderno de bombas de insulina, o chamado "pâncreas artificial", para tratar a diabetes tipo 1, já é uma realidade em Portugal, mas ainda não é usado ao abrigo do SNS. Ainda este ano, espera-se que o cenário mude, mas há ainda caminho a percorrer.
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Fruto dos avanços da medicina, atualmente já existem mecanismos pouco invasivos que procuram fornecer insulina às pessoas com diabetes tipo 1 - uma doença crónica autoimune que faz com que o próprio organismo se torne incapaz de produzir insulina - nomeadamente as bombas de insulina. Se dantes era preciso que os diabéticos recorressem a uma seringa várias vezes por dia para injetar insulina, agora existem mecanismos que evitam as "picadas" constantes e todo o desconforto gerado. A utilização de bombas de insulina traz um maior controlo da doença e proporciona uma maior independência e conforto ao utilizador.
Este mecanismo é comparticipado em Portugal pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS) "há cerca de 10 anos", como afirma ao JN o presidente da Sociedade Portuguesa de Diabetologia (SPD), João Filipe Raposo. Atualmente, existe contudo um sistema mais avançado, mas o SNS ainda não o comparticipa. "Se alguém quiser ter um outro sistema diferente dos sistemas mais básicos terá de o adquirir, sem a comparticipação", assevera João Filipe Raposo.
Ajustam-se à pessoa
As bombas de insulina de sistema mais básico já são comparticipadas a 100% pelo SNS para os menores de 18 anos, tendo havido recentemente uma discussão para que os adultos também tenham direito à comparticipação deste sistema.
"É um avanço em relação àquilo que existia anteriormente, no sentido em que as bombas de insulina clássicas não são adaptativas da quantidade de insulina e estes modelos permitem uma maior autonomia do sistema face à integração da pessoa. Por outro lado, estes sistemas também vão aprendendo com a pessoa, como é que a pessoa responde àquela dose de insulina, e vão adaptando as doses para que os resultados, nos dias seguintes, nas semanas seguintes, sejam cada vez melhores", explica o presidente da SPD ao JN.
O gestor de vendas da Medtronic Portugal, a empresa responsável por este sistema moderno de bombas de insulina no país, salienta que a principal diferença entre estas bombas mais recentes e as clássicas é o "automatismo". Francisco Mano refere que, "de uma forma automática, a administração da insulina não é fixa, mas é ajustada mediante as necessidades do corpo humano e, portanto, cada sistema 780 atua de maneira diferente em cada pessoa", diz, acrescentando que "é o mais parecido que existe atualmente a um pâncreas artificial".
A colocação deste sistema avançado ao dispor do SNS estava prevista para este ano, mas, até agora, não está disponível. "O que estava dentro dos objetivos do Ministério da Saúde, é que, em 2022, a oferta de bombas de insulina ficasse mais diversificada. Além das bombas do modelo básico, teríamos dois tipos de bombas e um dos dois tipos seriam as do pâncreas artificial. Esse concurso ainda não foi finalizado nesta altura e, portanto, neste ano, ao abrigo do SNS, ainda não se colocam essas bombas de insulina", garante João Filipe Raposo.
Francisco Mano, gestor de vendas da Medtronic, afirma que ainda para este ano "está previsto o lançamento dos sistemas automáticos nos hospitais do SNS".
"Essas bombas, quando estão ao abrigo do SNS, são disponibilizadas com uma comparticipação total, 100%, quer da bomba de insulina, dos sensores e todos os consumíveis que são necessários", afirma o presidente da SPD.
Qual é a inovação?
O sistema MiniMed 780G, o sistema de bombas de insulina de última geração, permite um ajuste automático da administração de insulina e corrige os valores altos de forma permanente, a cada 5 minutos, conforme necessário.
Apesar de ainda não ser comparticipado pelo SNS, este "pâncreas artificial" pode ser adquirido diretamente à empresa, mas o preço não é convidativo. Ao JN, Francisco Mano, gestor de vendas da Medtronic Portugal, não revela os valores, mas admite que "são preços elevados para o cidadão comum".
Neste momento, "existem 160 utilizadores em Portugal que suportam as expensas próprias a estes sistemas", um número pequeno se se considerar o universo de pessoas com diabetes tipo 1 no país.