Impacto da pandemia ainda acentuado numa altura em que tutela volta a admitir a suspensão da atividade programada. Grupo privado reajusta unidades de Braga e Porto para apoiar SNS.
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Os hospitais públicos fizeram menos 96 mil cirurgias programadas de janeiro a setembro último face ao mesmo período do ano anterior. Apesar do esforço feito no verão para recuperar os atrasos, o impacto da pandemia ainda é muito significativo - são menos 22% das cirurgias, segundo dados do Portal do SNS - e tende a disparar novamente porque, ontem, a tutela autorizou os hospitais públicos a suspender consultas e cirurgias programadas em novembro. O setor privado já está a ser chamado para apoiar o Serviço Nacional de Saúde (SNS).
O despacho da ministra da Saúde vem pôr no papel o que alguns hospitais, especialmente no Norte, têm vindo a fazer e reconhecer a necessidade de recorrer aos setores privado e social. O Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, o mais pressionado a nível nacional, cancelou cirurgias há mais de três semanas. Na mesma altura, o Hospital de S. João, no Porto, ativou um nível de contingência que implicava a suspensão de 20% das cirurgias. O objetivo é, sobretudo, libertar camas de cuidados intensivos e internamento que seriam usadas no pós-operatório, bem como recursos humanos.
O novo despacho diz que os hospitais do SNS têm de ativar os planos de contingência para dar resposta à covid-19 e equilibrar o esforço assistencial regional e inter-regional, suspendendo durante o mês de novembro a atividade assistencial "que, pela sua natureza ou prioridade clínica, não implique risco de vida para os utentes, limitação do seu prognóstico e/ou limitação de acesso a tratamentos periódicos ou de vigilância".
O diploma pretende "reforçar o funcionamento em rede de todas as instituições" e, para isso, determina que a gestão das camas dos doentes mais graves fica a cargo da Comissão de Acompanhamento da Resposta Nacional em Medicina Intensiva para a Covid-19. Para ajudar, os hospitais passam a registar as vagas no sistema "Camas em tempo real".
Lusíadas faz Cirurgias para SNS
A evolução da pandemia, diz ainda o despacho, pode justificar o recurso a camas de Medicina Intensiva do privado e social "que se disponibilizem a receber doentes críticos ou venham a ser chamados a colaborar neste esforço".
Ao final do dia de ontem, o grupo Lusíadas Saúde informou que está a reajustar as unidades do Porto e de Braga para apoiar o SNS na resposta a doentes covid e não-covid. O grupo indica que, após contactos com a ARS Norte, duplicou a resposta em SIGIC e que está a ultimar a negociação para fazer cirurgias urgentes em lista de espera de um hospital público do Porto, num total de 25 camas. Está ainda a ser estudada a possibilidade de receber doentes covid.
O bastonário dos Médicos lamenta que o despacho seja reativo, pondo a nu a falta de planeamento e organização desta fase da pandemia, e não dê alternativas para tratar os doentes. "Está a funcionar em cima do joelho", critica Miguel Guimarães. O médico acredita que os limites de alguns hospitais poderiam não ter sido atingidos já se tivessem sido garantidos todos os recursos do sistema de saúde, designadamente dos setores social e privado, na resposta a doentes covid e não-covid. O impacto das suspensões de atividade na mortalidade e morbilidade "será brutal", diz.