Rede pública estava com 87% de ocupação no final de janeiro. Ensino misto e redução do número de alunos internacionais explicam quebra na procura.
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Todos os anos se coloca o mesmo problema. Com 27% dos estudantes do Ensino Superior deslocados, faltam camas para os alojar, com a oferta a cobrir apenas cerca de 18% das necessidades. Problema que acabou por não se colocar neste ano letivo, por força do travão à mobilidade imposto pela pandemia. No final de janeiro, estavam ainda disponíveis 1552 camas na rede pública de residências.
De acordo com os dados facultados ao JN pelo Ministério da Ciência e Ensino Superior, no final daquele mês a taxa de ocupação estava nos 87%, sendo que 77% das camas estavam ocupadas por alunos bolseiros de ação social no Ensino Superior. A explicação está na pandemia.
Primeiro, Portugal recebeu muito menos estudantes internacionais, libertando assim camas para os nacionais. E estes procuraram alternativas temporárias e mais económicas, tendo em conta o ensino misto adotado já em março do ano passado.
Necessidades atendidas
"Dado o regime misto ou em espelho que diversas instituições optaram por seguir na organização dos períodos letivos, alternando a presença obrigatória com a frequência de aulas à distância, muitos estudantes optaram, este ano letivo, por soluções de alojamento temporário ou por períodos mais curtos, sem a assunção de compromissos (designadamente financeiros) por um ano letivo completo", adianta a tutela.
Ao JN o gabinete do ministro Manuel Heitor garantiu ainda não terem sido reportadas "necessidades não atendidas em matéria de alojamento, quer pelas universidades e politécnicos quer pelas estruturas representativas dos estudantes".
Pandemia tirou camas
Refira-se que, devido à necessidade de distanciamento entre camas de, pelo menos, dois metros, os estudantes viram a oferta reduzir-se em 15%. Feitas as contas, foram retiradas 2218 camas, para um total de 12 855, que o Governo colmatou por via de protocolos com hotéis, pousadas e unidades de alojamento local, que viram a atividade quase parar com a disseminação do SARS-CoV-2.
Pelos cálculos do Governo, conseguiram-se, com estes acordos, 4500 camas, a maioria nas cidades de Lisboa e Porto, onde o problema é, também, mais premente.
De acordo com os dados disponíveis no site da Direção-Geral do Ensino Superior (DGES), contam-se 73 protocolos com unidades hoteleiras, 18 dos quais com pousadas da juventude. Do total de protocolos, 26 eram em Lisboa e 13 no Porto.
Mais oferta neste ano
Camas que vieram ainda resolver atrasos no Plano Nacional para Alojamento no Ensino Superior. Segundo o último balanço oficial, datado de outubro de 2020, das 2492 camas que deveriam reforçar, no ano passado, a oferta das residências para estudantes do Ensino Superior, faltava colocar no mercado ainda um terço.
Questionado sobre as 1531 vagas que deveriam ficar prontas já em 2021, o Ministério da Ciência e Ensino Superior fez saber estar previsto, "durante todo o ano, e à medida que as empreitadas terminem, novas camas e camas reabilitadas em Lisboa, Porto, Vila Real, Coimbra, Santarém e Viana do Castelo", que vão sendo "disponibilizadas às comunidades estudantis".